Terroristas executam grupo de cristãos em novo ataque em Moçambique
Massacre em Cabo Delgado
O terror voltou a Moçambique. Homens armados atacaram com crueldade uma aldeia em Cabo Delgado, no dia 15 de Setembro, e assassinaram pelo menos 11 cristãos. Foi um acto deliberado. Antes de terem sido executados a tiro, os cristãos foram separados dos muçulmanos. Um missionário refere que a população “está assustada” e fala em “momentos de tensão e insegurança” …
Os terroristas chegaram à aldeia de Naquitengue, situada no distrito de Mocímboa da Praia, ao início da tarde de sexta-feira, 15 de Setembro, e convocaram a população. Inicialmente, ninguém suspeitou daquele grupo de homens armados pois usavam fardas idênticas à dos soldados moçambicanos. Mas depressa perceberam o logro. Não eram soldados, mas sim terroristas. Não havia como fugir. Depois de terem separado os cristãos dos muçulmanos, “com base nos nomes” para os identificar segundo as suas etnias, os terroristas “abriram fogo contra os cristãos”. Os relatos são perturbadores. Não se limitaram a matá-los. Fizeram-no com brutalidade, com ódio, esvaziando as metralhadoras nos corpos já tombados no chão. Os cristãos, ali maioritariamente pertencentes à etnia Makonde, foram “regados de balas”, como contou mais tarde um sobrevivente deste holocausto em Naquitengue. Antes de abandonarem a aldeia, os terroristas queimaram ainda algumas casas. Horas depois, já no Domingo, dia 17, o grupo jihadista “Estado Islâmico” reivindicaria este ataque referindo expressamente a morte dos cristãos. Frei Boaventura, um missionário do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus, presente em Moçambique, referiu à Fundação AIS os contornos extremamente violentos deste ataque, salientando “o detalhe” de que “esta estratégia já aconteceu no passado”. O missionário refere-se ao facto de os terroristas terem os cristãos como um alvo concreto. De facto, lembra Boaventura, Cabo Delgado já assistiu a situações idênticas, “com este mesmo cenário”, em que “os cristãos foram separados dos muçulmanos”. É uma estratégia pensada para espalhar ainda mais o medo. “Infelizmente, quando acontece isto, a população fica toda assustada”, diz ainda o religioso, lembrando que este ataque ocorreu também numa altura muito especial, quando muitos populares começavam já a pensar em regressar às suas terras de origem. Agora, pelo menos durante uns tempos, ninguém quer falar mais em voltar às suas aldeias, em fazer-se sequer à estrada. O medo impera. O medo é uma das armas dos terroristas. Aliás, logo depois do ataque, os populares fugiram para as matas, em pânico. Tudo isto gera, afirma frei Boaventura, “novos momentos de tensão e insegurança”. “Rezem pelos nossos irmãos que tanto sofrem”, pede-nos este missionário presente em Moçambique.
Não esquecer Cabo Delgado
Este ataque particularmente cruel contra os cristãos que viviam em Naquitengue, revela também que é longo ainda o caminho para a paz em Cabo Delgado. Um caminho que, no entanto, precisa de ser percorrido, como constantemente tem alertado o Bispo de Pemba. D. António Juliasse ter erguido a sua voz pedindo para que o mundo não se esqueça de Cabo Delgado e do sofrimento das suas populações. Ainda recentemente o fez, numa mensagem enviada para a Fundação AIS, em Agosto, no início da JMJ de Lisboa. Na ocasião, o prelado lembrou aos jovens vindos de todo o mundo e que se encontravam na capital portuguesa que há uma guerra em Cabo Delgado e que essa guerra está a causar um profundo sofrimento a todos os moçambicanos, sejam jovens ou idosos, homens ou mulheres. “Há em Cabo Delgado uma guerra de que o mundo menos fala. Já foram contabilizados cerca de 1 milhão de deslocados internos e perto de 5 mil mortos.” A mensagem termina com um desafio à solidariedade e à denúncia de todas as guerras que provocam sempre morte e sofrimento. “Ser solidário com Cabo Delgado alivia certamente o sofrimento imediato deste povo que está com muitas necessidades. Mas se os jovens denunciarem e agirem vigorosamente contra a atrocidade das guerras no mundo trarão de volta a esperança e o sonho da vida para todos”, disse D. Juliasse. O ataque à aldeia de Naquitengue, em que 11 cristãos foram assassinados a sangue-frio, não pode ser esquecido. De facto, no norte de Moçambique há uma guerra que tem de ser denunciada ao mundo. Cabo Delgado precisa da nossa ajuda…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt