Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião, para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus, a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior, tais como: a oração, o jejum e a esmola. Assim inicia a Mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2008. 1. Como caminhada de preparação para a Páscoa, a Quaresma é, antes de mais, um tempo forte de oração pessoal e comunitária: meditação frequente da Palavra de Deus e vida sacramental intensa. Centrada no Mistério Eucarístico, profundamente acreditado, dignamente celebrado, devotamente adorado e intensamente vivido (cf. Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 2007). Tudo parte e converge na Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã e da missão da Igreja. Desta feita, o tradicional Lausperene, que se realiza durante a Quaresma, é momento privilegiado, para centrarmos a nossa vida e acção em Cristo e nos configurarmos progressivamente com Ele, para chegarmos a afirmar com S. Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Gal 2, 20). A partir daí tudo é possível. 2. O jejum é expressão desta caminhada de conversão: mudança de vida, na maneira de ser e de agir. Jejum, não apenas como abstenção de alimentos, mas também como sobriedade de vida e fiel cumprimento dos próprios deveres, desapego dos bens materiais e partilha com os irmãos, entreajuda e solidariedade. A caminhada penitencial de conversão culmina na celebração do Sacramento da Reconciliação, onde Jesus continua a libertar do mal e da raiz de todos os males, que é o pecado. 3. Finalmente, a esmola, que é o tema central da mensagem papal da Quaresma 2008. O termo assume, por vezes, uma conotação pejorativa. O seu sentido cristão prende-se com a etimologia da palavra latina eleemosyna, derivada do verbo grego eleéo: ter compaixão, ser capaz de padecer-com, de se pôr no lugar do outro… Estamos lembrados do “Kyrie eleisón” (Senhor, tende piedade)! É o sentido da raiz etimológica de esmola. Portanto, além de ser prática ascética, esmola é expressão de solidariedade. Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários, mas administradores dos bens que possuímos. Assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da Sua Providência junto do próximo. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, os bens materiais têm um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal (cf. nº 2403)… Adquirem o tom de forte reprovação estas palavras de S. João: “Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o coração, como pode estar nele o amor de Deus” (Jo 3, 17)… (Bento XVI, Mensagem)? 4. É nesta perspectiva, que devemos assumir a Renúncia Quaresmal, destinada este ano a ajudar Moçambique: o Seminário Teológico Interdiocesano de S. Pio X (Maputo) e as famílias atingidas pelas recentes inundações. Junto em anexo os apelos, seja do já conhecido Pe. Rafael Baciano Sapato, Reitor do Seminário de Maputo, como também da ONG – “Cooperação e Desenvolvimento” – Oikós, presente e actuante no terreno. Como a viúva do Evangelho (cf. Mc 12, 44), vamos dar, não apenas do supérfluo, mas do fruto da renúncia, que nos vamos impor ao longo da Quaresma, para socorrer quem precisa mais do que nós. Cada Paróquia fará chegar o fruto da Renúncia Quaresmal à Cúria Diocesana. Esta encaminhará para a Conferência Episcopal de Moçambique o que for destinado ao Seminário e para a Oikós o apoio às famílias moçambicanas, duramente atingidas pelas cheias, a ser utilizado, nos próximos 4 meses, em programas de socorro já em curso. Temos, pois, garantia de que o fruto da Renúncia Quaresmal chegará aos destinatários. No ano passado, a Renúncia Quaresmal rendeu 16.986,99 (dezasseis mil novecentos oitenta e seis euros e noventa e nove cêntimos). Há todos os motivos para este ano sermos ainda mais generosos. A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão… – adverte o Papa, que remata a sua mensagem, invocando a intercessão materna da Virgem Maria, Mãe e Serva fiel do Senhor, para que ajude os crentes a travarem o “combate espiritual” da Quaresma, armados com a oração, o jejum e a prática da esmola, a fim de chegarem às celebrações das Festas Pascais renovados no espírito! Angra, 25 de Janeiro de 2008 Festa da Conversão de S. Paulo + António, Bispo de Angra
