Audiência a peregrinos da Coreia, o Papa pediu um futuro sem a violência das armas, encorajou a realização da JMJ Seul 2027 e a construção de uma Igreja jovem que nasce dos leigos
Cidade do Vaticano, 16 set 2023 (Ecclesia) – O Papa Francisco recebeu hoje peregrinos da Coreia a quem pediu que, seguindo o exemplo do santo mártir André Kim, possa a “península coreana” ser uma “semente de paz”, procurando encontrar-se com todos e “dialogar com todos”.
“Enquanto André Kim estudava teologia em Macau, teve de testemunhar os horrores das Guerras do Ópio; no entanto, naquele contexto conflituoso, conseguiu ser uma semente de paz para muitos, provando a sua aspiração de se encontrar com todos e de dialogar com todos. É uma profecia para a Península Coreana e para o mundo inteiro: é o estímulo para nos tornarmos companheiros de estrada e testemunhas da reconciliação; é o testemunho credível de que o futuro não se constrói com a força violenta das armas, mas com a suave da proximidade”, pediu aos peregrinos da Coreia, no Vaticano por ocasião da bênção da estátua de Santo André Kim Taegon, instalada num dos nichos externos da Basílica de São Pedro.
André Kim foi um jovem padre coreano martirizado há 177 anos a 16 de setembro, quando tinha 25 anos, tendo sido canonizado por João Paulo II, 6 de Maio de 1984, sendo venerado na diocese de Macau, local frequentado pelo jovem durante os seus estudos de Teologia.
“A sua figura convida-nos a descobrir a vocação confiada à Igreja coreana, a todos vós: sois chamados a uma fé jovem, a uma fé ardente que, animada pelo amor a Deus e ao próximo, se torna um dom. Neste sentido, com a profecia do martírio, a Igreja coreana recorda-nos que não se pode seguir Jesus sem abraçar a sua cruz e que não se pode proclamar cristão sem estar disposto a seguir o caminho do amor até ao fim”, explicou Francisco.
O Papa recordou a visita, em agosto de 2014, à Coreia por ocasião da 6ª Jornada Asiática da Juventude, e a sua deslocação ao Santuário de Solmoe, à casa onde Santo André Kim nasceu e passou a sua infância, e reconheceu o contributo do “sacerdote mártir coreano, morto ainda jovem, pouco depois de ter sido ordenado sacerdote mártir”, na história de fé do povo coreano.
Francisco assinalou ainda o “grande ardor pela difusão do Evangelho” que o jovem mártir tinha, dedicando-se ao “anúncio de Jesus com nobreza de espírito, sem vacilar perante os perigos e apesar de muitos sofrimentos”.
O Papa falou de uma Igreja coreana que “nasce dos leigos”, que é “fecundada pelo sangue dos mártires” e pediu para alargarem “o espaço de colaboração pastoral, para levar por diante o anúncio do Evangelho juntos; sacerdotes, religiosos e religiosas, e todos os leigos: juntos, sem fechamentos”, assinalou.
“Tendes a graça de ter tantas vocações sacerdotais; por favor, «afugentai-as», enviai-as para as missões, porque senão haverá mais sacerdotes do que pessoas: deixai-os ser missionários lá fora. Tenho a experiência de os ter visto na Argentina e fazem tanto bem aos vossos missionários: mandem-nos embora, deixem os padres que fazem falta, os outros vão para fora para serem missionários”, pediu.
Quando Francisco esteve em Lisboa, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, anunciou que a próxima edição internacional do encontro de jovens seria em Seul, em 2027, tendo pedido, agora, o contributo dos jovens na construção da Igreja na Coreia.
“Em particular, gostaria de confiar a Igreja coreana precisamente aos jovens. Apesar da vossa maravilhosa história de fé e do grande trabalho pastoral que realizais com entusiasmo, muitos jovens, incluindo os vossos, deixam-se seduzir pelos falsos mitos da eficiência e do consumismo, e fascinam-se com a ilusão do hedonismo. Mas os corações dos jovens procuram outra coisa, são feitos para horizontes muito mais amplos: cuidai deles, procurai-os, aproximai-vos deles, escutai-os, anunciai-lhes a beleza do Evangelho para que, interiormente livres, se tornem testemunhas alegres da verdade e da fraternidade”, valorizou.
LS