O cristianismo, face ao actual panorama cultural, tem de adoptar um «misto de denúncia (profecia) e acolhimento (bênção)» num equilíbrio onde «deve predominar a atitude profética», defendeu o director-adjunto da Faculdade de Teologia de Braga numa intervenção no âmbito da Semana de Estudos Teológicos que hoje à noite termina na cidade de Viana do Castelo. Este professor de Teologia, chamado a falar sobre “a fractura cultural”, começou por dizer que o cristianismo «não se identifica com nenhuma cultura nem existe independente ». Por isso, o actual contexto é uma «grande oportunidade de afirmação, porque sem o cristianismo a cultura seria mais desumana». Para João Duque, é importante lançar «pontes» com o mundo da alta produção e encontrar pontos de crítica quer à massificação, quer à individualização, uma vez que é um espaço onde se encontram «ecos» muito interessantes. Neste capítulo, a Igreja tem de bater com a mão no peito e arrepender-se de em determinados momentos ter «valorizado de mais produtos de uma cultura da comercialização ». Nesta tensão entre denúncia e bênção, em que o equilíbrio não é nada fácil, é que o cristianismo mostra o rosto da sua essência personalista mesmo que seja professado por muitos, resistindo à tentação massificadora porque a relação humana só é verdadeira enquanto «doação de vida». O palestrante apresentou um esboço a traços largos das transformações da cultura dita contemporânea, começando pela «morte de Deus». Neste quadro, Deus e o cristianismo deixaram de ser o «horizonte cultural», afirmou João Duque, questionando se basta para se falar em «ruptura », porque «não está provado que o cristianismo vive melhor numa sociedade onde é maioria ou horizonte social de sentido ». Deste ponto de vista, sublinhou, não se pode falar de uma «ruptura trágica». Outro ícone deste tempo é a «cultura de massas» cujo mediador são os media, na qual o «bem-estar» é a medida de todas as opções porque «o bem supremo é viver bem a vida», daí que «não se justifique dar a vida por nada» – nem por nenhum projecto, nem por ninguém. Daqui decorre um tempo e um povo «praticamente sem ilusões», concentrado no horizonte do individualismo. Quando tem que «ceder à vontade dos outros», rapidamente surge a «frustração» e a consequente «depressão». Contudo, é no seio destas marcas de um tempo que o cristianismo tem de «incarnar» vivendo uma «suficiente ruptura », porque não «há identificação » com qualquer cultura sob pena de deixar de o ser, concluiu. A discussão em torno de “Uma minoria criativa”, numa reflexão de Arnaldo Cardoso de Pinho, encerra esta noite a edição de 2008 da Semana de Estudos Teológicos promovida pela Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas do Instituto Católico de Viana. Começa às 21h30, no auditório da Escola, situado na Rua da Bandeira.