Francisco destaca três elementos – «a inquietação, a Igreja e o serviço» – como «lições valiosas para todos»
Cidade do Vaticano, 21 ago 2023 (Ecclesia) – O Papa Francisco escreveu o prefácio do livro autobiográfico de Dorothy Day ‘Encontrei Deus através de seus pobres. Do ateísmo à fé: o meu caminho interior’, da Livraria Editora Vaticana, nas livrarias esta terça-feira, 22 de agosto.
“A maneira como Dorothy Day conta sua chegada à fé cristã atesta o facto de que não são os esforços ou estratagemas humanos que aproximam as pessoas de Deus, mas sim a graça que flui da caridade, a beleza que brota do testemunho, o amor que se torna fatos concretos”, começa por escrever o Papa, divulga o portal ‘Vatican News’.
A vida de Dorothy Day, “como ela mesma conta” na autobiografia ‘Encontrei Deus através de seus pobres. Do ateísmo à fé: o meu caminho interior’, “é uma das possíveis confirmações” do que o Papa Bento XVI “sustentou vigorosamente” e que Francisco recordou “em várias ocasiões”: “a Igreja cresce por atração, não por proselitismo”.
“Toda a história de Dorothy Day, mulher norte-americana que dedicou toda a sua vida à justiça social e aos direitos das pessoas, especialmente dos pobres, dos trabalhadores explorados, dos marginalizados pela sociedade, declarada Serva de Deus no ano 2000, é um atestado do que o Apóstolo São Tiago já afirmava na sua Carta: “mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (2:18)”, desenvolveu.
Dorothy Day (1897-1980), nascida no seio de uma família protestante da classe média norte-americana, tornou-se sufragista, escritora social e política e, mais tarde, uma conhecida ativista católica.
Jornalista, pacifista e ativista, conhecida por seu compromisso com os pobres, contra os armamentos e pela justiça social, Dorothy Day fundou o movimento Catholic Worker, com uma rede de casas de acolhimento e jornais que abrangia o território dos EUA e cujo propósito era alimentar os famintos e acolher os pobres, os vulneráveis, os doentes e os necessitados, no espírito da caridade cristã.
No prefácio, Francisco destaca três elementos, que sobressaem das páginas autobiográficas de Dorothy Day, como “lições valiosas para todos” neste tempo: “a inquietação, a Igreja e o serviço”.
O Papa observa que “Dorothy é uma mulher inquieta” e ensina que Deus “não é um mero instrumento de consolação ou alienação” para o homem “na amargura de seus dias”, mas que Ele preenche o desejo de alegria e realização em abundância, ler ‘Encontrei Deus através de seus pobres. Do ateísmo à fé: o meu caminho interior’, e seguir o seu itinerário religioso, torna-se “uma aventura que faz bem ao coração”, e pode ensinar muito a manter viva “uma imagem verdadeira de Deus”.
Sobre a Igreja, Francisco afirma que Dorothy Day “reservou belas palavras para a Igreja Católica”, que, para ela, proveniente e pertencente ao mundo do compromisso social e sindical, “muitas vezes” parecia estar do lado dos ricos e dos proprietários de terras, “não raro insensíveis às exigências da verdadeira justiça social e da igualdade concreta em que tantas páginas do Antigo Testamento são ricas”.
Para Francisco, “é bonito” ouvir estas palavras de uma “grande testemunha da fé, da caridade e da esperança” no século XX, quando “a Igreja foi objeto de críticas, aversões e abandonos”.
O serviço, o Papa lembra que Dorothy Day serviu os outros durante “toda a sua vida”, mesmo antes de chegar “à fé na sua forma plena”, e esse colocar-se à disposição “tornou-se uma espécie de ‘autoestrada’ pela qual Deus tocou o seu coração”.
“O serviço deve se tornar política, ou seja, escolhas concretas para que a justiça prevaleça e a dignidade de cada pessoa seja salvaguardada”, salienta o Francisco, realçando que Dorothy Day, que destacou no seu discurso ao Congresso dos Estados Unidos, em 2015, quando pediu o fim da pena da morte e do tráfico de armas, “é um estímulo e um exemplo neste árduo, mas fascinante caminho”.
CB