A Europa é um continente que vive o desafio da unidade e da confiança e estuda formas de ultrapassar a memória do que gerou de negativo para o Continente e para a Comunidade Internacional. Um tema analisado por Adriano Moreira no início dos trabalhos do VIII Encontro de Apoio Sócio Pastoral das Migrações. Adriano Moreira recordou factos da história que contaram negativamente com o contributo dos europeus: as duas grandes guerras, mundiais nos seus efeitos, mas europeias nas suas causas; o direito internacional em crise, que tem por fundamento as sociedades europeias e cristãs; a permanência de ideias de inimizade entre países vizinho… A partir de 1945 iniciou-se um novo ciclo, mas é o início da paz “quase em cima de um cemitério”, disse o conferencista recordando os 50 milhões de mortos da II Guerra. Numa sobrevivência de memórias, Adriano Moreira defende que vivemos numa anarquia. Mas numa “anarquia madura porque para pior espero que já não possa ir…”. No séc. XIX, a carência de energia, de matérias-primas e de mão-de-obra levou os europeus ao encontro de colónias. Hoje, vivem-se as mesmas carências. E na impossibilidade de colonizar, a Europa entrega-se ao mercado, ao que Adriano Moreira chamou “teologia do mercado”, que faz depender a soberania da comunidade internacional dos “senhores da economia do mundo”, os G8. Para Adriano Moreira, esta é uma situação que coloca uma parte do mundo na “geografia do consumo” e outros na “geografia da fome”. O que leva muitas populações a emigrarem, a partirem ao encontro de um dos principais direitos da pessoa humana, depois do direito à vida: o direito à alimentação. Como em todas as gerações, também na actualidade “o homem move-se ao encontro do que o pode alimentar”. É essa mobilidade que está na origem, hoje, de “colónias interiores”. É assim que chama às tentativas de isolar uns pela construção de muros e ao isolamento de outros, os mais abastados, quando se erguem protecções. Num dinamismo entre fracos e pobres, a actualidade demonstra também que nem sempre venço o forte. Adriano Moreira recordou que o 11 de Setembro é uma prova da vitória do fraco sobre o mais forte. Uma caracterização da história europeia e das questões que emergem da actualidade, para concluir que “o que não existiu foi política de acolhimento e política de integração. Temos que voltar a estudar isto”. Nas levará a bom porto a ideia de que “tudo o que não tenha retorno económico não tem importância”. Adriano Moreira defende que, com o contributo das ciências humanas, olhando as sugestões de papas humanistas e de santos laicos (assim caracterizou a acção de muitos políticos ao longo da história), é necessário “restaurar o tecido da sociedade de confiança”.