Centenário de D. Jaime Garcia Goulart, primeiro Bispo de Díli

D. Jaime Garcia Goulart, primeiro Bispo de Díli, nasceu na Candelária do Pico, em 10 de Janeiro de 1908. Primo do cardeal D. José da Costa Nunes, partiu em 1921 para Macau onde frequentou o seminário de S. José. Ainda estudante do 3.º ano de teologia foi nomeado secretário de D. Costa Nunes, então bispo de Macau. Veio D. Jaime a concluir o curso teológico no seminário de Angra do Heroísmo, aproveitando a vinda aos Açores de D. José, onde recebeu a ordenação sacerdotal a 10 de Maio de 1931. Algum tempo depois regressou a Macau ali permanecendo até 1933, ano em que partiu para Timor, onde se demorou até 1937 como comissário, muito contribuindo para a fundação do seminário menor de N.ª S.ª de Fátima na Missão de Soibada, em 13 de Outubro de 1936 e destinado à formação de sacerdotes indígenas. No ano de 1937 estava de novo em Macau e, pouco depois, em 1940, encontrava-se já em Timor, investido nas altas funções de vigário-geral das Missões. Dili, cidade capital da província de Timor, sede do concelho e da diocese do mesmo nome, fica situada na costa norte da ilha de Timor, a 800 quilómetros da Nova Guiné, a cerca de 2400 de Singapura e a 3200 de Macau. Foi nesta cidade que a autoridade papal criou em 4 de Setembro de 1940, pela bula Sollemnibus conventionibus a diocese de Díli, sufra-gânea da de Goa, sendo seu primeiro bispo D. Goulart, que a governou desde 18 de Janeiro de 1941 como administrador apostólico e, como bispo, desde 12 de Outubro de 1945 a 31 de Janeiro de 1967. A sua sagração efectivou-se em Sidney, Austrália, na capela do colégio de S. Patrício, em 28 de Outubro de 1945, sendo sagrante o bispo D. João Panico, delegado apostólico, e co-sagrantes D. Normando Gilroy, arcebispo de Sidney e D. João Coleman, bispo de Annidale, recebendo na altura a simpatia e homenagem de muitas individualidades. Dali partiu a dar entrada solene na sua diocese de Dili (9-12-45), que encontraria devastada e em ruínas. Exercia ainda administração apostólica, quando, em 1942, teve de deixar o bispado devido à ocupação japonesa (1). Nessa longínqua diocese teve papel preponderante o realizado por Salesianos, jesuítas, pelas Irmãs canossianas e dominicanas do SS. Rosário. Elementos estatísticos indicavam que em 1966 possuía 15 paróquias para 131 455 fiéis de entre uma população de 574.805 habitantes, ao cuidado de quatro dezenas de sacerdotes. Dando mostras de cansaço e com a saúde abalada, D. Jaime pediu à Santa Sé a nomeação de um bispo coadjutor com sucessão, vindo a resignar em 31 de Janeiro de 1967, permanecendo como bispo titular de Trofimiana. Ao pronunciar as palavras da sua despedida da diocese timorense, D. Jaime exprimia-se comovido: “Há trinta e três anos, pela primeira vez , pisei terras de Timor e tomei contacto com a sua gente. Desde então para cá, se tem vindo, dia a dia, apertando os laços de espiritual afecto, que me ligam a este bom Povo Timorense, laços que ainda mais fortemente a ele me vinculou a cruz episcopal”. D. Jaime foi agraciado pelo governo português com o oficialato da Ordem do Infante D. Henrique, que lhe foi concedido por decreto de 23 de Maio de 1964. Considerado de uma grande e proverbial modéstia, D. Jaime quando na intimidade e em devaneio com os seus mais íntimos revela-se um conversador inigualável e extremamente afectuoso e simples. D. Jaime regressou aos Açores em Agosto de 1967 e foi residir na Horta, ilha do Faial e depois no Pico, onde dirigiu a obra da Casa de S. José, na Candelária da ilha do Pico. Viveu nos últimos anos da sua vida em Rabo de Peixe e em Ponta Delgada em casa de familiares seus, na ilha de S. Miguel, e Angra teve ocasião de o rever e relembrar por altura das solenidades com que se reiniciou o culto da Sé de Angra, em 3 de Novembro de 1985. “Dedicado de alma e coração ao seu povo timorense”, recebeu a visita de D. Carlos Ximenes Belo, que o inteirou da situação do martirizado povo. Faleceu, com 89 anos, na cidade de Ponta Delgada a 15 de Abril na clínica do Bom Jesus, onde se encontrava internado deste 8 de Março daquele ano (2). NOTAS: 1 Seara, direcção e edição do P.’ Ezequiel Enes Pascoal, Imprensa Nacional de Timor, ano 1, n.º 1, Janeiro 1949. 2 Cf. Boletim Eclesiásticos dos Açores, nº 848, 1997 Fonte: Diocese de Angra

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