Homilia do Bispo de Aveiro no Dia Mundial da Paz

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus Dia Mundial da Paz 1 de Janeiro de 2008 “Bem-aventurados os construtores da paz”(Mt.5,9) 1. Oito dias depois do Natal, a Igreja celebra a maternidade divina de Maria, a Mãe de Jesus, saudando-a com as palavras de Isaías: “Salvé, Santa mãe, que destes à luz o Rei do Céu e da Terra”. (cf. Is. 9,1) No início do tempo, no começo da vida, na génese da existência de cada pessoa e no percurso de toda a história humana, a Mãe tem sempre um lugar essencial e uma missão imprescindível. Assim aconteceu com Maria, na vida de seu Filho, Jesus, o Filho de Deus. Assim acontece com Maria, na vida da Igreja desde o seu início e ao longo da sua história. Assim acontece com as nossas Mães, na vida de cada um de nós. Por isso rezamos desde o primeiro dia do Ano: “Senhor, nosso Deus, que pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a Salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da Vida” (Colecta da Liturgia Eucarística). O início e o decorrer do novo Ano, devem ser modelados por este jeito próprio de rezar, de olhar voltado para Maria, a Mãe de Deus. A oração confere à vida dos crentes uma densidade e um sentido que nada pode substituir. A oração é imprescindível para que cada um de nós como pessoa, como família e como comunidade encontre a alegria e a paz ao longo de todo o tempo que um novo ano sempre anuncia. Convido as Comunidades cristãs, as Comunidades religiosas e os Santuários, a oferecer mais tempo e espaço à oração, à adoração e à contemplação. Sobretudo os Santuários, que na nossa Diocese são todos santuários marianos, devem proporcionar momentos de celebração de Reconciliação e de Eucaristia e espaços de acolhimento, de oração e de contemplação. Do diálogo entre Deus e Moisés, nessa bela forma de oração de que nos fala a primeira leitura, nasce a missão primeira de Moisés: abençoar o Povo de Israel, ensinando-o a invocar o nome de Deus. (Num. 6,22-27) Maria, Mãe de Jesus, é na nova Aliança, a bênção terna e materna que Deus nos dá. A bênção da plenitude dos tempos, referida por S. Paulo, na Carta aos Gálatas: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma Mulher”(Gál. 4,4). A partir de agora “já não somos escravos, mas sim filhos e herdeiros” (Gál. 4,7). Na sua oração contemplativa e na sua meditação silenciosa, Maria guardava, no seu coração de Mãe, este singular mistério da sua maternidade divina e este sagrado milagre da nossa filiação divina. (cf. Lc. 2,19). Maria, Mãe de Deus, figura da Igreja e mestra da fé, continua hoje a ensinar “às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar.” (Bento XVI, mensagem da Visita ad Limina). 2. Tem toda a oportunidade e sentido, neste primeiro dia de 2008, invocar Maria, Mãe de Deus, como estrela da esperança, a estrela do mar. São de Bento XVI, na recente Encíclica Spe Salvi – Salvos pela Esperança, as seguintes palavras: “Com um hino do século VIII/IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de Deus, como « estrela do mar »: Ave maris stella. A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu « sim », abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14).” (Spe Salvi, n.º49). Confiamos a Maria, Mãe de Deus, esta travessia da história e esta viagem no tempo que é a nossa vida e a vida e missão da Igreja Diocesana de Aveiro. 2 Sejamos fiéis ao nosso plano pastoral que nos propõe caminhos novos e sugere gestos criativos no serviço aos pobres e nos impele a realizarmos esforços perseverantes de comunhão e de formação de toda a Comunidade Diocesana Os pobres, os sem-abrigo, e todos os que não têm casa, pão, saúde, liberdade ou família merecem-nos, ao longo deste ano que agora começa e sempre, uma solicitude mais atenta. Procurei passar com alguns destes grupos momentos importantes do tempo de Natal e mais urgente senti o trabalho pastoral a realizar junto deles e com eles. Somos convidados a viver um Ano dedicado a S. Paulo imprimindo o espírito e o carisma das suas viagens apostólicas em cada visita pastoral a realizar desde a próxima semana às comunidades da Diocese, chamando-nos a todos, no amanhecer de cada dia, para a urgência da missão. Procuremos ser uma Igreja de discípulos, de apóstolos e de missionários. A Jornada Mundial da Juventude e o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus serão para a Igreja Universal dois marcos relevantes do Ano que hoje começa. Sê-lo-ão também para a nossa Diocese. 3. Nunca uma travessia na história, uma viagem no tempo, um rumo de esperança na vida se podem realizar isoladamente, com marcas de individualismos relativistas ou de visões culturais redutoras. Nós somos uma família humana; constituímos uma só comunidade (cf. Nostra aetate, 1); “percorremos todos um mesmo caminho como irmãos e irmãs”(M. 6). Neste Dia Mundial da Paz, o Santo Padre, Bento XVI, envia-nos uma mensagem com o tema: “Família Humana, a comunidade de paz.” Daí retiro oportunos ensinamentos que esta mensagem nos oferece: A família constitui o “lugar primário da humanização da pessoa e da sociedade, o berço da vida e do amor… e é igualmente a primeira e insubstituível educadora para a paz”, diz-nos o Santo Padre. (Mensagem 2008, n.º1,2,3). Os gestos, os olhares, as palavras de uma família “sã” estruturam a melhor gramática da paz e são a principal “agência de paz”. (id. n.º3,4,5). Uma sociedade que não entenda, não respeite ou não ajude a “família nestes campos priva-se de um recurso essencial ao serviço da paz”(id. n.º5). O cuidado com o ambiente, casa da família humana, impõe respeito pelo equilíbrio ecológico, atenção maior aos pobres e aos “excluídos do destino universal dos bens da criação.” 3 Por seu lado a integração no património da família não só dos bens materiais necessários mas também dos valores essenciais que configuram a vida e das normas jurídicas e morais que a alicerçam, revela-nos que a paz não se inventa, não se improvisa, não se adivinha nem se impõe. A paz educa-se e edifica-se, implora-se e merece-se. “Ser pacífico e construtor da paz é uma das bem-aventuranças do Reino” (Mt. 5,9). Andamos todos tão preocupados com a paz! E esquecemos tão facilmente que a família é o seu habitat natural, a sua escola permanente, o seu ambiente propício, o seu fundamento necessário. Pretender promover a paz e o progresso e desamparar a família humana é um contrasenso e um paradoxo. A sociedade civil e o Estado não podem esquecer esta realidade nem menosprezar o esforço da Igreja no serviço da família nas suas mais diversas vertentes e concretamente como educadora da paz das consciências, da harmonia dos esposos, do encontro de gerações, da comunhão entre pais e filhos e do equilíbrio social. Valorizemos a família humana, nos seus princípios essenciais, nos seus fundamentos indestrutíveis, nos seus valores cristãos e construiremos a paz no coração humano e na comunidade humana. Que Nossa Senhora, estrela da esperança e rainha da paz, nos ilumine ao longo de cada dia deste novo ano com a luz do Seu exemplo, com a paz da Sua presença e com a doçura da Sua bondade. Um feliz e abençoado Ano Novo. + António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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