Homilia dos Bispo de Setúbal da Missa da Noite de Natal

«Cantemos o Senhor com a boca, com o coração e com uma vida santa. A este apelo que vos faço de cantar o Senhor com a alma de Maria junto um pedido veemente a Deus para que aumente a nossa fé: a minha, a vossa, a fé de todos os diocesanos.» Hoje nasceu para nós o salvador. Na alegria desta Boa Nova surpreendente convido-vos, irmãos, a dar graças a Deus Pai por Jesus Seu Filho muito amado, presente no meio de nós. A liturgia não é como a representação histórica dum acontecimento. Ela torna presente o que celebra. Jesus que um dia incarnou no seio de Maria e morreu por nós e foi elevado ao Céu está aqui, como o Vivente. Cantemos, pois, a Deus Pai por dom tão excelente. Cantemo-Lo ainda porque nos deu a fé que nos permite reconhecer Cristo aqui e nos fez sair do conforto das casas para vir aqui acolher Jesus como Maria, como S. José, como os pastores. Cantemos a Deus porque nos enviou anjos a anunciar Jesus como salvador: o anjo foi o pai, a mãe, um amigo, a avó, um padre. Sem este mensageiro nenhum de nós poderia estar aqui nesta noite a adorar Jesus. Cantemos o Senhor com a boca, com o coração e com uma vida santa. A este apelo que vos faço de cantar o Senhor com a alma de Maria junto um pedido veemente a Deus para que aumente a nossa fé: a minha, a vossa, a fé de todos os diocesanos. Porquê este pedido ‘Senhor, aumenta a minha fé’ numa celebração em que se sente mais que nunca a fé? Porque a fé é fundamental na vida cristã. Se é forte e viva tudo bem, se é frágil tudo se complica. Se alguém crê de verdade que Jesus é Deus feito homem celebra o Natal duma forma, se não festeja-lo-á doutra forma. O cristão precisa de purificar e crescer continuamente na fé que recebeu no Baptismo, de forma que se torne fé madura, esclarecida, corajosa, feliz: Fé que escute o Senhor e que lhe obedeça. Fé que compreenda a bondade de Deus para com o homem no dom do Filho amado. Fé que nos faça renunciar à impiedade e que nos faça ver Deus nas coisas do dia a dia e ordenar tudo segundo Deus. Fé que nos faça desejar estar com o Senhor. Fé capaz de ver Cristo na fragilidade, na palavra das Escrituras e capaz de correr para a ler, meditar, escutar e guardar no coração. Fé capaz de ver Cristo em cada homem, que é sacramento de Cristo, e capaz de se pôr à escuta do homem para o amar e servir. Fé que nos faça descobrir Cristo vivo na Igreja, apesar das feridas desta, e que nos leve a amar a Igreja como nosso próprio corpo. Fé que nos faça ver Cristo na Eucaristia e que nos leve a deixar tudo para, em cada domingo, participar na Eucaristia e deixar que a vida da semana seja iluminada pela Eucaristia. Por tudo isto, diante deste Menino que é Deus connosco e que nos é dado pela mais bela misericórdia de Deus Pai, vos convido de novo a dizer: ‘Senhor, aumenta a nossa fé’ . Aumenta-a, ó Senhor, para podermos compreender a novidade, a beleza, a riqueza, o alcance para o homem e para a humanidade daquilo que hoje acontece e que celebramos: Deus vem conviver connosco para sempre na pessoa do Menino do Presépio. Deus deu-nos o Seu filho e deu-nos a fé para O podemos reconhecer e acolher. E nós, que damos tantas prendas uns aos outros, não Lhe vamos dar nada? Que prenda lhe poderíamos dar, nesta noite cheia da luz do amor de Deus? Depois de pensar um pouco lembrei-me de vos propor que, nesta noite, oferecêssemos ao Senhor a prenda da nossa disponibilidade para, de mãos dadas, ajudarmos as nossas paróquias e a diocese a serem escola viva de educação da fé para todos os que já caminham na fé e a serem anjos, isto é, mensageiros de Deus que anunciem sem cessar a todas as pessoas que nos rodeiam, como os anjos de Belém, que nasceu o Salvador. Quereis oferecer este presente a Deus nosso Senhor? Dizei depressa que sim porque à nossa volta há multidões, como ovelhas sem pastor, à espera de alguma coisa que não conhecem. Se recebemos, antes dos outros, a feliz notícia de que Jesus, hoje nascido para nós, é a esperança do homem e do mundo e de que n’Ele o homem encontra a resposta aos anseios do coração e às suas perguntas mais exigentes e profundas, é porque o Senhor nos escolheu para a O ajudar a levá-la a todos. É urgente anunciar Jesus já que fora d’Ele não há salvação. Emprestemos, pois, sem demora e da melhor boa vontade a nossa boca, os nossos pés, o nosso tempo, todas as nossas capacidades ao Senhor e vamos dizer a todos: Aquele que procurais sem saber já está no meio de nós, vinde e encontrá-lo eis numa manjedoura. Demo-nos, depressa, as mãos nas paróquias, nos grupos, nos movimentos, em toda a parte para que a nossa diocese seja escola de fé adulta, firme e esclarecida e seja, a partir dessa fé viva, escola de mensageiros fiéis, ousados e entusiasmados da boa Nova do amor de Deus em Cristo que hoje nasceu para nós. Organizemos melhor como o Santo Padre nos pediu a iniciação em toda a diocese. Caros irmãos na fé, Deus deu-nos hoje o Seu Filho, deu-nos também a fé pelo seu Espírito para reconhecer em Jesus o nosso Salvador, e enviou-nos mensageiros para podermos encontrar com Jesus e nós, agradecidos por tão grandes dons e pela alegria e a esperança que nos envolvem, queremos crescer na intimidade com o Senhor numa fé que conduz ao amor e queremos ser mensageiros da Boa Nova de Jesus e queremos colaborar na edificação duma Igreja mensageira da boa Nova da salvação, com palavras sábias e com uma vida cativante de boas obras. Como é belo este intercâmbio de dons! Como é belo e como é difícil. Deus sabe-o e para nos ajudar vai dar-nos Cristo, que nasceu para nós, em alimento na Eucaristia. Felizes seremos se, com a colaboração materna de Nossa Senhora e com o exemplo da fé de S. José, acolhermos Jesus no presépio do nosso coração. Queremos fazê-lo de verdade?

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top