Igreja/Cultura: D. Carlos Azevedo apresenta «Estudos de Arte e Devoção» para ajudar a «entender as vias do simbolismo»

Bispo e historiador destaca «relação espiritual» de familiaridade que se cria com imagens de Cristo, Maria ou um santo

Lisboa, 13 jul 2023 (Ecclesia) – D. Carlos Azevedo, delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas (Santa Sé), apresentou hoje em Lisboa a sua nova obra, ‘Estudos de Arte e Devoção’, que aborda a realização artística concretizada no âmbito “da religiosidade e da espiritualidade cristãs”.

“Como se beija a figura de um ente querido, igualmente a imagem de Cristo, de Maria ou de um santo com quem se estabelece uma relação espiritual”, escreve o autor, na introdução do volume.

O livro, editado pelas Paulinas, aborda temas como a simbologia das pedras preciosas na Bíblia ou a imagem do Santo Cristo, em São Miguel, Açores, como “uma tradução da iconografia do Ecce Homo”, num contexto de sensibilidade mística que a escola franciscana alimentou desde os séculos XIV e XV.

“Contemplar esta impressionante imagem da paixão de Cristo inspirou, inspira e inspirará atitudes de compaixão, de piedade, de participação na dor que nos retira da indiferença e nos move para uma humanidade de esperança”, escreve o bispo e historiador português.

As representações figuradas, implicadas na ação cultural, produzem uma passagem fundamental: passam de coisas a sinais. o devoto é remetido para outro nível, pela imagem que facilita o acesso ao que nos transcende. A materialidade dos artefactos ganha importância na devoção católica e pode chegar ao exagero de adquirir força própria e autónoma. Mas vale a pena correr o risco pelas vantagens abertas e que estes estudos ilustram”.

D. Carlos Azevedo, ‘Estudos de Arte e Devoção’ 

O livro inclui ainda estudos sobre arte, com reflexões sobre a tapeçaria da Igreja de Santo Ovídio, de Gaia, de Fernando Lanhas, por exemplo.

A apresentação decorre na Brotéria, em Lisboa, com uma intervenção de António Camões Gouveia, historiador e docente universitário, para quem o texto sobre a imagem do Santo Cristo representa um “estudo exemplar”.

O especialista elogiou a atenção da obra a várias inventários e devoções, com “camadas de observação” que permitem oferecer “uma lógica de interpretação”.

António Camões Gouveia destacou o texto dedicado ao “Bom de Jesus do Monte” (Braga) como “arquitetura de paisagem e proposta espiritual”.

“É uma chamada de atenção para uma complexidade”, precisou.

D. Carlos Azevedo assinalou, na sua intervenção, que o livro resulta de um trabalho “silencioso”, de investigação, como “serviço às comunidades cristãs e à sociedade culturalmente atenta”, numa leitura do “mundo simbólico”, que unifica.

O bispo e historiador admitiu que poderia parecer um “despropósito” apresentar uma obra sobre estes temas, mas sublinhou a presença de dezenas de pessoas, na apresentação, como sinal do interesse por “entender as vias do simbolismo, antigo, contemporâneo”.

“Isso não nos distrai da realidade perante uma sociedade mundial, atingida por uma guerra, a sofrer um modelo económico em hecatombe, e uma Igreja debilitada”, acrescentou.

No Porto, a sessão de apresentação decorre esta sexta-feira, no salão nobre Igreja da Lapa, a partir das 21h00, ficando a cargo de José Manuel Tedim.

O bispo português, historiador de formação e membro da Academia Portuguesa de História, nasceu em Milheirós de Poiares, Santa Maria da Feira, a 4 de setembro de 1953; estudou nos Seminários do Porto e no Instituto de Ciência Humanas e Teológicas, doutorou-se em 1986, na Faculdade de História Eclesiástica da Universidade Gregoriana, em Roma, e durante esse período, colaborou na Secretaria de Estado do Vaticano, na secção de língua portuguesa.

D. Carlos Azevedo foi professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) desde 1987 e vice-reitor da instituição académica (2000-2004); presidiu à direção do Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, de 1992 a 2001, e dirigiu a obra ‘Dicionário e História religiosa de Portugal’, editada pelo Círculo de Leitores, tendo sido também presidente da comissão científica para a publicação da Documentação Crítica de Fátima (1998-2008).

Foi nomeado por João Paulo II como bispo auxiliar de Lisboa a 4 de fevereiro de 2005 e ordenado no Porto, a 2 de abril de 2005.

Bento XVI nomeou-o, em 2011, como delegado do Conselho Pontifício para a Cultura; a 3 de dezembro de 2022, Francisco designou D. Carlos Azevedo como delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas.

OC

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Agência ECCLESIA

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