A Encarnação de Deus é fonte de humanismo

Mensagem de Natal do Bispo de Angra A grande festa – o centro do ano litúrgico – é a Páscoa da Ressurreição, fundamento da fé cristã (cf. 1 Cor 15, 14). A Festa do Natal surge tardiamente. Provavelmente, como «baptismo cristão» da festa do «Sol Invicto», que os romanos celebravam a 25 de Dezembro. Seja como for, de facto o Natal tornou-se a celebração mais exuberante de sinais exteriores de «memória cristã», mesmo hoje, no meio de tanta pressão consumista. 1. O símbolo por excelência do Natal cristão é, naturalmente, o presépio, que reproduz as narrativas evangélicas do nascimento de Jesus. Mas há outros símbolos do Natal, com evidentes raízes cristãs: * A tradição da «árvore do Natal» vem das encenações, que se faziam nas igrejas, como alegoria da «árvore da vida», sempre verde e cheia de frutos. * O próprio «Pai Natal» remonta a S. Nicolau, Bispo de Bari, que na época natalícia distribuía presentes às crianças pobres. * As tradicionais iluminações decorativas, que fazem do Natal a festa da luz, estão em sintonia com as profecias do Antigo Testamento, que anunciam o Messias, como «o sol nascente», a «luz das nações». * O que é confirmado pelo Prólogo do Evangelho de S. João: Aquele que é a Palavra fez-Se homem e veio morar no meio de nós» (Jo 1, 14), para ser a luz verdadeira que ilumina toda a humanidade (cf. Jo, 1, 9). 2. É uma luz de esperança. «SPE SALVI facti sumus – é na esperança que fomos salvos: diz S. Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8, 24)». Assim inicia a recente Encíclica de Bento XVI sobre a esperança cristã (30 de Novembro de 2007). Esperar é acreditar que se vai realizar o que ainda não se vê. Não é que os cristãos «conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a vida não acaba no vazio» (Bento XVI, ibid., nº2). Tem um sentido e uma meta, um rumo para um fim feliz, garantidos pela Promessa de Deus. Eu conheço bem os desígnios que tenho sobre vós – diz o Senhor pela boca do profeta – desígnios de paz e não de aflição, de vos garantir um futuro de esperança (Jer 29, 11). Uma esperança certa, nascida da fé: certeza de já se possuírem as coisas que se esperam e a garantia das coisas que não se vêem (Heb 11, 1). «A fé é esperança» – explica o Papa: «pela fé, de forma incoativa – poderíamos dizer “em gérmen”… – já estão presentes em nós as coisas que se esperam» (Ibid., nº5). A esperança cristã não é mera probabilidade, nem piedoso desejo. É já realidade, na tensão entre a promessa da semente e a plenitude da consumação. 3. É uma esperança activa, que nos compromete, com a firme certeza de que é possível fazer acontecer o «shalom» da promessa messiânica, isto é, «a paz», entendida como bem-estar e harmonia connosco próprios e com os outros, com Deus e com a criação. Jesus realiza e leva a pleno cumprimento essa promessa profética. Por mais necessários e oportunos que sejam, os acordos e as cimeiras não são suficientes. Não são as estruturas, que mudam o coração humano, mas uma Pessoa: o Salvador prometido e já presente no meio de nós. Ele é a grande «prenda» de Natal, que torna possível uma humanidade renovada pelo amor. «Não é a ciência que redime a pessoa humana. O ser humano é redimido pelo amor» (Bento XVI, Ibid., nº 26). Faz, pois, todo o sentido o ambiente de festa, que caracteriza esta quadra natalícia: troca de votos e de presentes, convívios e reuniões familiares, gestos de boa vontade e campanhas de solidariedade. A Encarnação de Deus é fonte de humanismo. É nesta perspectiva que devemos ver o contributo da Igreja para a «humanização» da pessoa e da sociedade. A função social da Igreja não se mede apenas pelas valências que gere, mas também pelo trabalho silencioso e permanente das comunidades cristãs. Isso não faz notícia, mas não deixa de ter impacto real e positivo na vida das pessoas e da sociedade. 4. Aquele que é a Palavra fez-Se homem (Jo 1, 14). «Humanou». Por isso, «humanizou». Tornou possível uma vida plenamente humana. «Homens, sede homens» – clamava Paulo VI, há anos em Fátima! Um belo programa para celebrar e viver esta quadra natalícia. De pouco adiantariam as iluminações e as decorações, a árvore de natal e o presépio, a música-ambiente e as liturgias solenes, se tudo isso não nos fizesse mais humanos e fraternos. Logo a seguir ao Natal. São os meus votos de Boas Festas! D. António Sousa Braga, Bispo de Angra

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