Numa cerimónia cheia de cor e acompanhada com emoção na Praça de São Pedro, em Roma, por mais de 300 mil pessoas, o Papa beatificou ontem a Madre Teresa de Calcutá, a “irmã dos pobres”. “Louvemos esta pequena mulher enamorada de Deus, humilde mensageira do Evangelho e incansável benfeitora da humanidade. Honremos nela uma das personalidades mais relevantes da nossa época, acolhamos a mensagem e sigamos-lhe o exemplo”, podia ler-se na homilia do Papa, proclamada pelo arcebispo Leonardo Sandri e pelo Cardeal Ivan Dias, de Bombaim. João Paulo II mostrou-se sorridente no último dia das comemorações do 25º aniversário do seu pontificado e cumpriu assim um desejo pessoal. O Papa leu a fórmula de beatificação da “venerável serva de Deus”, que a partir de agora é apelidada de “bem aventurada”, respondendo ao arcebispo de Calcutá, Lucas Sirkar, que tinha apresentado um resumo da obra da religiosa ao serviço dos desfavorecidos. “Depois de ter pedido autorização à Congregação para as Causas dos Santos, com a nossa autoridade apostólica acordamos que a venerável serva de Deus Teresa de Calcutá seja doravante chamada de bem aventurada”, disse João Paulo II. As palavras do chefe da Igreja católica foram seguidas do descerramento de uma imagem da Madre, sobre a Basílica, saudada por aplausos da multidão. Teresa de Calcutá torna-se assim o primeiro Prémio Nobel da Paz a ser beatificado e uma recordista no que toca ao desenrolar do processo, o mais rápidos desde a criação da Congregação para a Causa dos Santos em 1588. “De vez em quando vinha falar comigo acerca das suas experiências ao serviço dos valores evangélicos e certamente é significativo que a sua beatificação tenha lugar no dia em que a Igreja celebra o Dia Mundial das Missões”, recordava o texto escrito pelo Papa e lido pelo Cardeal de Bombaim, onde se manifestava uma enorme admiração pela religiosa. João Paulo II saudou várias vezes a multidão que se juntou na praça para assistir à cerimónia. Entre os presentes estavam algumas Missionárias da Caridade, membros da ordem fundada por Teresa de Calcutá e que se dedicam ao cuidado dos pobres e doentes. Nas filas dianteiras destacavam-se centenas de pobres e doentes ao cuidado das missionárias assistiram de perto à cerimónia, marcada por grande emoção tanto em Roma, quanto na Índia, onde a agora beata realizou o seu trabalho em vida. O Papa anunciou ainda que o dia de festa litúrgica dedicado a Teresa de Calcutá será assinalado “no dia do seu nascimento para o céu”, a 5 de Setembro, data da morte da religiosa. D. José Alves, que representou no Vaticano a Conferência Episcopal Portuguesa, comentou a homília do Papa durante a cerimónia de beatificação de Madre Teresa de Calcutá. O presidente da Comissão Episcopal para a Acção Social Caritativa, disse ter ficado comovido com o contacto pessoal que existiu entre o Papa e Madre Teresa. “Ele próprio disse que a Madre Teresa o procurava frequentemente para confrontar com ele os critérios que ela usava no seu trabalho” – considerou. Com início às 10h00 locais (09h00 em Lisboa), a celebração foi transmitida por 77 estações de televisão de 48 países, entre as quais as portuguesas RTP e TVI. No local, havia seis ecrãs gigantes e colunas de som de 50 em 50 metros, instalados nas zonas adjacentes ao Vaticano, para permitir que a cerimónia fosse acompanhada pelo maior número possível de pessoas.
