Sónia Neves, Agência ECCLESIA
Neste dia de São Pedro recordo a passagem bíblica do convite ao pescador para seguir o Mestre. Um simples pescador que veio a ser o primeiro Papa, sigamos a recordar o santo popular, a cada ano! Ele que foi o timoneiro que inaugurou a grande barca, onde todos podem ter lugar e onde todos podem ter voz.
Mas nem sempre foi assim e, atrevo-me a dizer que, em alguns lugares continua a não ser. No passado dia 20 de junho foi apresentado o documento que vai orientar a próxima assembleia sinodal, que vai decorrer de 04 a 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’.
Tive o cuidado de ler alguns dos pontos deste documento e deparei-me com várias questões… São mesmo questões colocadas por escrito, frases que terminam com ponto de interrogação, a meu ver carregadas de dúvidas e esperança.
É preciso ter coragem para colocar questões, que o digam os jornalistas. É preciso observar e escutar muito, sair do lugar de conforto e levantar o dedo.
Numa igreja, como em qualquer outra organização, a partilha de ideias, de conhecimentos e experiências só traz o enriquecimento do trabalho diário, a avaliação diária leva ao crescimento e caminhos delineados. Neste caso, a partilha de dons e saberes levam outros a remar “para fora de pé”, a encontrar outros mares e a abrir horizontes.
Numa das minhas reportagens recentes, alguém me confessava “gosto de me encontrar com outros que fazem o mesmo que eu, porque sei que vou aprender algo, nem que seja a forma de olhar diferente”.
Estar em Igreja é também este encontro com alguém que acredita no mesmo que eu, que até pode ter uma “forma de olhar diferente”, e é no caminho conjunto e na partilha que nasce o enriquecimento.
Sinto que nos faz falta partilhar mais em Igreja, dar ideias e opiniões, ter espaço e tempo para questionar, construir futuro em conjunto, usar linguagem que todos percebam e, estas questões do sínodo, têm de nos desinstalar, têm de nos “abanar” para fazer diferente.
Todos têm lugar e voz na barca, mas todos a remar em conjunto. Acredito que os leigos têm muito que fazer… Mas também precisam de ocupar o seu lugar, sentir a responsabilidade na partilha e “chegarem-se à frente”, sem medos ou preconceitos, mas com a humildade de quem está ao serviço e pode contribuir com um olhar de quem traz a Igreja para o mundo da família, do trabalho e da sociedade.
Que a Igreja seja sempre um lugar de acolhimento, onde “nos possamos sentir em casa”. É um bom exercício olhar este documento, ler as questões e refletir no “meu mundo” que poderia fazer ou mudar?