Tony Neves, em Manaus
Cheguei vivo, embora moído, a esta bela e monumental cidade de Manaus, no coração da Amazónia. Se Nelson Mandela pôde escrever o seu emblemático ‘longo caminho para a liberdade’, eu serei mais modesto e vou só escrever uma curta crónica sobre este meu ‘longuíssimo caminho para Manaus!’.
Deixei a Casa Geral em Roma eram 11 da manhã de terça feira. Chegar ao aeroporto de Fiumicino foi um tiro, pois a hora ajudava no trânsito. Depois, check-in e mais controlo e mais embarque e já estava eu a caminho da Alemanha. Para quem sabe ler um mapamundi, ir de Roma para Manaus por Frankfurt é o mesmo que ir do Porto a Braga por Lisboa! Não arrepia caminho, pelo contrário, aumenta em duas horas as dez que seriam… mas diminui muito no preço e foram essas as contas de pobre que eu fiz. E faço sempre até que as costas não aguentem mais!
Frankfurt é um grande aeroporto e as formalidades de fronteiras são sempre chatas em todo o mundo, Alemanha incluída. Assim, levei tempo a deixar-me controlar, mas à horinha prevista já estava dentro de um grande avião da Latam para voar rumo a S. Paulo. Só que ficamos todos a tostar dentro do avião duas horas porque havia um problema com o radar. Ora, aproveitei para ver o filme ‘O auto da Compadecida’, essa comédia memorável realizada no Brasil em 1955, que dá para rir duas horas de enfiada, mas que mostra bem o Brasil interior daquela época, sem poupança para fazendeiro, padeiro, prefeito, padre ou bispo! Valeu a pena rever este filme pois, logo que acabou, o avião fez-se ao céu para uma dúzia de horas que mais pareceram uma experiência antecipada de eternidade! Ensanduichado entre duas pessoas, li, rezei, meditei, vi filmes, fiz jogos, dormi, mas S. Paulo parecia cada vez mais longe. Só tenho que dar graças a Deus porque as duas pessoas que fizeram de mim uma sanduíche eram magras, e não tive que repetir a dolorosa e quente experiência de um voo para o Senegal, onde viajei entre duas senhoras avantajadas no peso e no volume!
O avião aterrou em S. Paulo eram seis da manhã de quarta. Estava um frio de rachar, para o qual só o pólo JSF me preparou. Mais de uma hora para carimbar o passaporte e, uma vez junto ao tapete das malas, vi chegar muitas, mas a minha esperou para ser das últimas. Respirei fundo e saí.
Os Padres Elson Lopes e Ivaldino Assis, ambos caboverdianos a trabalhar nas favelas de S. Paulo, asseguraram-me os primeiros abraços, um familiar ‘café da manhã’ brasileiro e dois dedos de muita conversa, partilhando a missão que se vive por aquelas paragens pobres e desafiantes. Com eles veio o P. Márcio Asseiro, Superior dos Espiritanos da Bolívia, chegado ao Brasil com o mesmo objetivo que eu: a reunião de todos os Superiores Maiores Espiritanos da América Latina.
Se à mesa do café éramos quatro, no avião da Latam para Manaus só fomos dois: eu e o P. Márcio. O país é o mesmo, mas são quase cinco horas de voo e muda o fuso horário! Também se nota uma mudança radical na temperatura e na humidade, pois o frio intenso em S. Paulo transformou-se, cinco horas depois, num calor húmido e difícil de suportar aqui em Manaus.
À nossa espera estavam os Padres José Gaspar e Carmelo Rivera, párocos nas periferias da cidade. Após saudações, percorremos de carro a distância entre o aeroporto e a Paróquia do Santíssimo Redentor, confiada aos Espiritanos há alguns anos. Aqui estou até fazer-me às águas e rumar a Tefé, seguindo o Rio Solimões que se junta ao Rio Negro, aqui em Manaus e seguem juntos até Belém, já com um novo nome: Amazonas!
A última visita que fiz a Manaus foi sobretudo pastoral, pois celebrei e passei pelas sete comunidades que integram esta grande Paróquia confiada aos Espiritanos. Desta vez, privilegiaram a visita ao centro histórico, ao porto e outros espaços belos desta cidade que tem muitas coisas para contar.
Agora parto rio adentro até ao Tefé. De lá navegarei horas e mais horas até Fonte Boa, fazendo depois a viagem de regresso a Manaus. Semana após semana, vou contar-nos o que vou ver, ouvir, sentir, partilhar, celebrar, viver.