Sínodo 2021-2024: Documento de trabalho pede reforço da presença das mulheres na «tomada de decisões»

Texto orientador para a próxima Assembleia Sinodal sublinha necessidade de repensar ministérios, a todos os níveis da Igreja

 

Foto: synod.va

Cidade do Vaticano, 20 jun 2023 (Ecclesia) – O novo documento de trabalho do Sínodo 2021-2024, divulgado hoje, apela ao reforço da presença das mulheres na “tomada de decisões”, dentro das comunidades católicas, convidando a repensar ministérios, “a todos os níveis da Igreja”.

“Todas as Assembleias continentais apelam a que se aborde a questão da participação das mulheres na governança, na tomada de decisões, na missão e nos ministérios a todos os níveis da Igreja, com o apoio de estruturas apropriadas para que isto não permaneça apenas uma aspiração geral”, indica o ‘Instrumentum Laboris’ (IL), texto orientador para a primeira sessão da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que vai decorrer em outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’.

O documento destaca que as prioridades para a Assembleia Sinodal incluem “as alegrias e tensões, bem como as oportunidades de conversão e renovação” nas relações entre homens e mulheres, na Igreja.

“Que novos ministérios poderiam ser criados para proporcionar meios e oportunidades para a participação efetiva das mulheres nos órgãos de discernimento e de decisão?”, é uma das questões propostas aos participantes.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, lançada pelo Papa em 2021, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

“Os contributos recebidos durante a primeira fase referem que as tensões com os ministros ordenados surgem na ausência de dinâmicas de corresponsabilidade e de processos de tomada de decisão partilhados”, aponta o novo documento de trabalho.

O texto realça que a maior parte das assembleias continentais e as sínteses de “numerosas Conferências Episcopais” pedem que se volte a “considerar a questão do acesso das mulheres ao diaconado”.

“As mulheres que participaram na primeira fase expressaram claramente um desejo: que a sociedade e a Igreja sejam um lugar de crescimento, de participação ativa e de pertença saudável para todas as mulheres. Pedem à Igreja que esteja ao seu lado para acompanhar e promover a realização deste desejo”, pode ler-se.

O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.

O Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconado permanente, a que podem aceder homens casados (depois de terem completado 35 anos de idade), o que não acontece com o sacerdócio.

O texto orientador questiona se será possível, “como propõem alguns continentes, abrir uma reflexão sobre a possibilidade de rever, pelo menos nalgumas áreas, a disciplina sobre o acesso ao presbiterado dos homens casados?”.

É possível que, particularmente em lugares onde o número de ministros ordenados é muito baixo, os leigos possam assumir o papel de líderes comunitários?”

O processo sinodal em curso quer propor “uma visão positiva dos ministérios”, colocando o ministério ordenado dentro da “ministerialidade eclesial mais ampla, sem oposições”.

“Há um claro apelo a superar uma visão que reserva somente aos ministros ordenados (bispos, presbíteros, diáconos) todas as funções ativas na Igreja, reduzindo a participação dos batizados a uma colaboração subordinada”, refere o texto orientador para a próxima Assembleia Sinodal.

A discussão sobre novos ministérios alarga-se a quem se empenha na “construção de uma sociedade justa e no cuidado da casa comum, como resposta a uma vocação autêntica e como opção de vida”.

“Como pensar em formas de reconhecimento deste compromisso, de modo a tornar claro que não se trata de uma opção pessoal, mas de uma ação que torna tangível a preocupação da Igreja?”, questiona o documento de trabalho.

Da mesma forma, debate-se a possibilidade de reconhecer um “ministério específico de escuta e acompanhamento” para “o encontro com os pobres e marginalizados e a possibilidade de caminhar juntamente com eles”.

Como Igreja sinodal, somos chamados a discernir juntos os passos a dar para realizar a missão de evangelização, sublinhando o direito de todos a participar na vida e na missão da Igreja e exortando ao contributo insubstituível de cada batizado”.

O documento de trabalho dá eco ao desejo de “processos de decisão mais partilhados” e que envolvem os que estão “à margem da vida comunitária, como as mulheres, os jovens, as minorias, os pobres e os excluídos”.

“A exigência de uma reforma das estruturas e instituições e dos mecanismos de funcionamento no sentido da transparência é particularmente forte nos contextos mais marcados pela crise dos abusos (sexuais, económicos, espirituais, psicológicos, institucionais, de consciência, de poder, de jurisdição)”, acrescenta o IL.

O texto começou a ser redigido em abril, por um grupo de peritos dos cinco continentes, que participaram no processo sinodal, durante um encontro na Secretaria-Geral do Sínodo, e foi aprovado no XV Conselho Ordinário deste organismo, que decorreu em Roma, de 10 a 11 de maio.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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Agência ECCLESIA

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