Cimeira política e unilateral

Director da «Além-Mar» vê apenas interesses económicos europeus em África e pouco espaço para os direitos humanos e boa governação Uma Cimeira política é a forma como o Pe. Manuel Augusto, Director da Revista Além-Mar e sacerdote comboniano vê o encontro dos Chefes de Estado da Europa e de África. Um encontro mais voltado para as preocupações europeias que africanas. “É uma agenda cheia e o principal já está definido”, acrescenta, recordando que a primeira Cimeira da Presidência portuguesa de UE, realizada no Cairo, “não teve seguimento”. O risco é que “esta também não tenha”, até porque, frisa, os interesses europeus “rumam a Leste”. A Europa “acordou” para África porque percebeu que outros, como a China ou a Índia, “têm interesse no continente”, indica. “As grandes questões já vieram preparadas”, afirma o sacerdote comboniano, manifestando algum cepticismo. Este fim de semana apenas serão assinadas “declarações de princípios”. A Europa quer fazer “parcerias” com África, “criar um contexto político favorável nas relações”. O Pe. Manuel Augusto afirma que os objectivos aparentemente são “económicos”, criar condições para o comércio “que interessa sobretudo à Europa”, indica. “A agenda apresenta preocupações que são no fundo, europeias”. O continente europeu está preocupado com a sua segurança, com as migrações, e também “precisa de matérias primas para manter o seu modelo”. Portugal tem laços históricos e afectivos fortes com África e é um facto que “Portugal teve mérito em incluir a Cimeira na Presidência da UE”, aproximando os dois continentes. Mas o director da revista Além-Mar frisa que gostaria de ter percebido uma linguagem mais solidária e humanitária na preparação do encontro, numa “preocupação sincera pelo continente africano que foi deixado de parte nos últimos anos”. A agenda deveria incluir mais eficazmente o desenvolvimento de toda a África e “intimamente ligado com os direitos humanos” e com a “boa governação”. Da Cimeira deveria resultar uma “posição europeia” sobre os direitos humanos, “sobre o bom governo”, mas também sobre as situações que se vive no Darfur, Somália, Zimbabué, Etiópia, Eritréia, entre outros. “Situações dramáticas que deveriam ter uma resposta neste encontro”, afirma esperançado.

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