Igreja distingue Manoel de Oliveira

Cineasta recebeu Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes pela sua obra personalista e apaixonada Manoel de Oliveira recebeu esta Sexta-feira o prémio de Cultura Padre Manuel Antunes, numa cerimónia que decorreu na Fundação António Cupertino de Miranda, Porto. O cineasta, de 99 anos de idade, disse que o galardão é um estímulo para fazer mais e melhor, “para além do melhor que possa fazer”. “Quando se principia, principia-se com grandes certezas. Eu estava muito seguro quando fiz o meu primeiro filme do que era o cinema e hoje estou muito menos seguro, muito mais duvidoso, mas também mais apaixonado”, afirmou Manoel de Oliveira. D. Manuel Clemente, presidente Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, justificou a escolha com a importância que na obra do cineasta é dada à pessoa humana. “Apaixonado juvenil de velocidade, filmou o rio e a sua faina com cenas estonteantes de sugestão e ritmo. Como depois, em história infantil de correria e jogo. Mas, já então, sobressaindo o recorte de cada figura, a densidade de cada personagem. Ressaltava, em suma, a humanidade de cada figurante, ou melhor, cada figura da humanidade transportada”, observou. “Os rostos e as falas, sendo únicos e recortados, valem por si e além de si mesmos, num além em que cabemos todos”, precisou ainda. Na sua intervenção, D. Manuel Clemente assinalou que “como técnica e criação, o cinema é arte, destacada do teatro”. “E é cinema o que Manoel de Oliveira nos dá, quer quando corre ou desliza como os seus Douros, quer quando só a fala corre, como nos seus Vieiras. Mas o movimento de Oliveira foi ganhando a sua fonte, ainda mais nos olhares do que nos gestos, ainda mais em cada palavra do que na corrente delas”, prosseguiu. Esta é a terceira atribuição do «Prémio de Cultura – Padre Manuel Antunes», instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura em parceria com a Rádio Renascença, e que, nas edições anteriores, distinguiu o poeta Fernando Echevarria e o cientista Luís Archer sj. “Em todos eles sublinha-se a excelência da humanidade que pessoalmente concretizam”, referiu o Bispo do Porto, localidade de onde são naturais os premiados. A edição deste ano contou com a entrega da “Árvore da Vida”, obra do escultor Alberto Carneiro, que passará a ilustrar cada atribuição. “Agraciando Manoel de Oliveira, agradecemos também a Alberto Carneiro, que soube moldar excelentemente a ideia que temos, duma vida manifestada em sucessivos frutos de inteligência e coração”, referiu D. Manuel Clemente. Manoel de Oliveira Falando de José Régio – que, com Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, considerou em 1959, os três maiores poetas portugueses do século XX e “três grandes poetas do sagrado” – Manuel Antunes escreveu que ele era também o “poeta da nossa vontade de quebrar e ultrapassar os limites, dos nossos esforços por encontrar uma verdade sempre entrevista jamais contemplada, da nossa insaciável fome de Deus”. A Manoel de Oliveira, discípulo e admirador de Régio, de quem adaptou ao cinema várias obras, aplicam-se com pertinência estas palavras, ele que também podia dizer como Régio: “diga o que diga” (ou filme o que filme) “é só falar de Deus”. Aparentemente mais serena do que a obra de Régio (mas disso, que sabemos nós?) Oliveira, na sua singularíssima filmografia, iniciada em 1931, aos vinte e dois anos, e que, hoje, aos noventa e oito, prossegue com radicalidade cada vez maior, é, como Régio, o autor de “um canto de origem – que não só de essência – religiosa” (Manuel Antunes). Quando filmou Mon Cas, em 1986, Manoel de Oliveira falou do “sinal inexorável e inextinguível da presença de Deus”. “Libertai as almas cativas!” eram as palavras finais do Soulier de Satin. No seu cinema, marcado por uma dualidade que Manuel Antunes tanto sublinhou nos nossos maiores, a beleza é como que uma saudade da eternidade. É um apelo a uma unidade primordial e final de que, na sua obra, vemos os reflexos esparsos, sabendo-se “parte da parte” de um Todo por vir. Por isso, o Júri decidiu atribuir ao maior dos nossos cineastas – cineasta da re-ligação e cineasta do Sagrado – o Prémio Manuel Antunes de 2007. O Júri teve a seguinte composição: D. Manuel Clemente, Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais; João Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença; João Bénard da Costa, Escritor; Maria Teresa Dias Furtado, Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; Hermínio Rico sj, Director da Revista “Brotéria”; José Tolentino Mendonça, Director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC). Foto: SNPC Entrevista a Manoel de Oliveira • Paixão pelo cinema de artesanato Intervenção de D. Manuel Clemente • Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes 2007

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