Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal
Por mais do que uma vez já dei comigo a ligar para a coordenadora da Presença Amiga, Movimento Informal de Voluntariado Hospitalar em parceria com SESARAM, a que dedico algumas horas da minha vida, para lhe dizer toda contente: o Santo Padre anda a “roubar as nossas ideias”.
Calma! Eu explico. E desde já peço que me perdoem a ousadia das palavras. Já por mais do que uma vez, especialmente no que toca às mensagens do Dia do Doente, comunidade com que lidamos, o Papa Francisco tem deixado desafios que nós voluntárias já colocamos em prática há muito tempo. O último, se bem me lembro, foi afirmar que «O doente é sempre mais importante do que a sua doença».
Ora, uma das nossas normas basilares é precisamente essa. Podemos visitar o mesmo doente vezes sem conta, sem nunca lhe perguntarmos do que padece.
Se o doente quiser partilhar, muito bem. Estamos ali para o escutar, mas se ele entender não o fazer, nós respeitamos a sua vontade. O que nos interessa, verdadeiramente, é que ele fale – ou não – sobre aquilo que quiser, do futebol à doença.
Mas voltando à mensagem, o Papa dizia também que «qualquer abordagem terapêutica não pode prescindir da escuta do paciente, da sua história, das suas ansiedades, dos seus medos». Isso sim é para nós, e julgo que para o próprio doente, o que realmente importa.
Claro que, se no meio da conversa, ele desabafa sobre o que tem e o preocupa, sentimos que fica mais aliviado a ponto de muitos até nos brindarem com um sorriso, que nos faz “ganhar” o dia.
Mas o Papa foi ainda mais longe. Começo a achar que gosta mesmo de nos mostrar o quanto estamos certas. Na sua mensagem, desta vez para o Dia das Comunicações, Francisco, voltou a fazer das suas. Disse o Papa que é preciso «Falar com o coração».
E aqui está a essência de todo o nosso voluntariado: Trabalhamos, leia-se falamos, com o coração junto dos doentes, idosos e seus familiares.
E o Papa explica ainda que «foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora».
Não podia estar mais de acordo com o Santo Padre e aqui falo de voluntariado e também de meios de comunicação. Neste tempo em que vivemos é fundamental, como o Santo Padre diz, «não ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda, mas de o fazer sem amor, sem coração».
E quando o Papa diz que «Basta amar bem para dizer bem», eu atrevo-me a acrescentar que basta amar bem para fazer o bem. Para nos empenharmos na ajuda ao irmão que sofre, seja qual for a doença.
O importante mesmo, e lá vem outra das máximas da Presença Amiga, é que “em momentos de sofrimento todos tenham o carinho e o amor de alguém”.
Da mesma forma, os leitores e ouvintes merecem meios de comunicação que lhes digam a verdade, com rigor e isenção. Afinal, somos aquilo que comunicamos.
Um esforço contracorrente, num tempo em que, dia sim dia sim senhor, aparecem “jornalistas”, especialmente nas redes sociais, que fazem o trabalho do verdadeiro jornalista parecer uma brincadeira, quando na verdade é algo de muito sério.
A mim, que sou dos velhos tempos isto custa-me! E custa-me ver também que o Facebook e afins são hoje as fontes de muitos dos ‘novos’ e ‘velhos’ jornalistas.
É do género: se está “nas redes” é porque é verdade. Então não se confirma nada. Nada mais fácil que copiar e colar e pasmem-se, noticia feita.
Claro que depois aparecem notícias sobre Ferraris acidentados na Madeira, quando a coisa se deu no Brasil, só porque havia uma concentração da marca na ilha e na foto apareciam umas árvores.
Naquilo a que alguns chamam a era jurássica, havia fontes de carne e osso e tinham de ser bem cuidadas para continuar a produzir os melhores frutos, que é como quem diz a nos dar as melhores notícias.
Além disso, havia lugar ao contraditório, sob pena das peças ficarem ‘penduradas’ à espera do mesmo e ninguém era condenado antes de ser julgado…
Mas o imediatismo de querer dar a notícia primeiro que o vizinho do lado, está-nos a roubar a essência da profissão e o nosso terceiro lugar como pilar de qualquer sociedade, há muito que passou à história.
Sei que tudo tem de evoluir e jornalismo também. Mas se alteraram as leis e normas que nos regem, por amor à santa, alguém que me diga, para não andar para aqui mais 33 anos enganada.