O número diminuiu, mas a gravidade associada aumentou, afirma a coordenadora do «Projeto Rua» do Instituto de Apoio à Criança
Lisboa, 12 abr 2023 (Ecclesia) – A coordenadora do «Projeto Rua» do Instituto de Apoio à Criança (IAC) considera que a problemática neste setor da sociedade é “invisível” porque não está “exposta” como noutros tempos.
“Antigamente, encontravam-se estas crianças no metro, em carros abandonados e casas e era mais visível, mas mesmo assim a sociedade fazia muito menos por elas”, disse à Agência ECCLESIA Matilde Sirgado no Dia Internacional das Crianças de Rua que se celebra esta quarta-feira, dia 12 de abril.
O «Projeto Rua» do IAC está no terreno “há mais de três décadas”, foi criado em 1989, e centra-se na área metropolitana de Lisboa, mas “nunca deixou, infelizmente, de ser necessário de intervir” porque a problemática sofreu “alterações e adaptações” consoante a mudança da sociedade.
O número de crianças na rua “diminuiu”, mas o número de problemática associadas aumentou, lamenta a coordenadora.
Com a pós-pandemia, Matilde Sirgado revela que “há um aumento substancial”, relacionado com “os níveis de pobreza que se agravaram”.
Estas mudanças mostram “um aumento de gangs e grupos” e “alguns comportamentos ilícitos”, acrescenta.
Os números mostram que as “idades baixaram”, por isso, o IAC continua “a dar visibilidade” ao Dia Internacional das Crianças de Rua porque “muito ainda há a fazer”, salienta a coordenadora do «Projeto Rua».
No último ano, “cerca de 80 crianças foram retiradas das ruas”, na maioria dos casos associados à delinquência juvenil e cada vez em idades mais precoces.
A média de idade das crianças e jovens retirados das ruas baixou dos 16 para os 13 anos, números avançados pelo Instituto de Apoio à Criança, através do «Projeto Rua», que apoia crianças e jovens sem apoio familiar ou em situação de vulnerabilidade, promovendo a reinserção sociofamiliar.
“Há aqui uma mudança de perfil, no início eram basicamente rapazes”, mas os novos dados revelam “que tendencionalmente, ano a ano, as raparigas têm sido mais”, revela Matilde Sirgado.
“As redes sociais têm sido um polo atrativo porque muito dos jovens sonham com algo diferente para a rua e uma fuga para aos problemas na sua família”.
O sonho fictício e o encontro na rua leva a que, “jovens e adultos, os iniciem em práticas ilícitas”, lamenta responsável.
Matilde Sirgado sublinha que muitos destes jovens fugiram de casa.
“Estes adolescentes e jovens fazem uma rutura com o seu contexto familiar por vários problemas. Este fenómeno das crianças em situação de rua, infelizmente, continua a ser um fenómeno atual, este fenómeno está ligado às crianças desaparecidas, é uma das tipologias das crianças desaparecidas”.
“Estamos agora a fechar o relatório do último ano e chegamos a acompanhar cerca de 80 adolescentes e jovens nesta situação, um número ainda expressivo”, sublinha Matilde Sirgado.
A coordenadora do «Projeto Rua» defende que é prioritário apostar em medidas de prevenção e de integração destas crianças e jovens.
“A maior incidência das medidas e políticas deve ser uma aposta na prevenção, integrar estes jovens em projetos educativos”.
O Instituto de Apoio à Criança criou a “primeira escola” de segunda oportunidade em Lisboa que já existe em outros pontos do país, e é uma “grande oportunidade”.
O IAC “não está isolado” e faz “um trabalho de parceria” com outras entidades para que esta realidade “não seja invisível”.
PR/LFS