Congresso em Fátima aponta caminhos para o diálogo inter-religioso

Presidente do Conselho Pontifício apontou João Paulo II como exemplo nesta matéria O presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, D. Michael Fitzgerald, defendeu em Fátima que a acção do Papa João Paulo II a favor do diálogo e da abertura da Igreja Católica a outras religiões deve ser vista como um exemplo para todos. Falando no final do Congresso Internacional sobre “O lugar dos Santuários na relação com o Sagrado”, que contou com a presença de representantes de várias confissões, o arcebispo norte-americano considerou que o pontificado de João Paulo II foi marcado pela sua abertura ao diálogo dentro e fora do cristianismo, conquistando um “espaço próprio”, antes inexistente. “As missões ainda permanecem e anunciamos Jesus Cristo mas a forma como o fazemos é que é diferente, já que a Igreja começa a reconhecer sinais de sagrado noutras religiões, numa atitude ecuménica sem precedentes, entre os cristãos, e de diálogo inter-religioso com todo o mundo. O Papa tem sido fundamental nestes dois aspectos: é alguém muito consciente da necessidade de conciliar diferentes perspectivas cristãs”, assegurou. No mesmo sentido foi a reflexão do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, para quem no diálogo inter-religioso não se ganha em dar prioridade aos proselitismos e aos sincretismos. “É um diálogo a estabelecer na humildade e na verdade, de quem respeita o caminho religioso dos seus irmãos, incitando-os, com o nosso exemplo, a procurarem cada vez mais o rosto de Deus, que é amor, dando-lhes o testemunho, vivido e sincero, de que nós, os cristãos, encontramos esse rosto de Deus no rosto de Jesus Cristo: o testemunho da santidade é mais fecundo do que a simples convicção doutrinal”, vincou na sua intervenção de sábado, intitulada “O futuro de Deus”. Numa altura em que a secularização e a laicização lançam cada vez mais desafios à sociedade contemporânea – tema que esteve em destaque durante o Congresso – é fundamental que as religiões conciliem esforços no sentido de contrariar a desertificação de um mundo cada vez mais sem Deus, defendeu o presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso. “Há pessoas que estão muito agarradas ao seu modo de compreender a tradição”, admitiu D. Michael Fitzgerald, sublinhando que a abertura do Vaticano “nem sempre é bem compreendida” por sectores da hierarquia. “Perante as outras religiões há duas perspectivas imperfeitas em que podemos cair: ou de as considerar sem valor no conjunto da realização do desígnio da salvação, ou de as considerarmos definitivas, ao lado do cristianismo, como se todas as religiões fossem iguais”, ilustrou D. José Policarpo. A humanidade contemporânea foi discutida ao longo deste Congresso na multiplicidade das suas religiões, no fenómeno do relativismo e da descrença e no materialismo dos valores e dos critérios. “Toda a religião sincera, que ponha o homem em contacto com Deus, faz parte do futuro de Deus, porque isso se torna possível na centralidade salvífica de Jesus Cristo, desde que não as consideremos como caminho definitivo. Definitivo, em termos do futuro de Deus, só Jesus Cristo o é”, defendeu o Patriarca de Lisboa. O metropolita Epiphanios, 68 anos, do patriarcado ortodoxo de Constantinopla, Rusmir Mahmutcehajic, presidente do Fórum Internacional Bósnia e Taka Fukushima, monge budista japonês, foram alguns dos que se quiseram juntar a esta reflexão e testemunhar a importância de se evitar tomar a religião como ideologia, “o que levou à arrogância e ao desejo de submeter o outro”. Mais de uma centena de participantes acompanharam de 10 a 12 de Outubro esta reflexão sobre o Sagrado, a Idolatria, a Fé e a experiência de diferentes religiões.

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