Raquel Assis, Diocese de Lamego
Perante um qualquer conflito, existe a tendência de rotular as partes, um como culpado, outro como vítima. A opinião dos espectadores varia conforme a versão que ouve, a relação que tem com cada parte, com o historial das relações pré-existentes.
Por definição, um conflito é um enfrentamento entre elementos contrários ou incompatíveis, ou seja, a culpa não tem de ser necessariamente atribuída a apenas uma das partes.
A opinião pública sofre bastantes oscilações relativamente a acontecimentos consoante a comunicação social dirige um determinado conjunto de dados, ou seja, a opinião é facilmente moldada quando não existe espírito crítico que procure mais fontes de informação. Um dos exemplos desta manipulação foi a perceção com que a sociedade ficou sobre a pessoa que foi o Papa Bento XVI. Uma pessoa humilde, inteligente, bondosa, recatada, que foi caricaturada como um nazi moderno arrogante!
A guerra na Ucrânia está perto de completar um ano de duração.
E, como em tudo, estamos desde essa altura a torcer pela vitória de um país injustamente invadido por um país comandado por um louco com sede de poder e controlo.
Não querendo colocar nada disto em causa, obviamente, mas olhando para o assunto de forma objetiva e não sentimental, devemos verificar dois pontos: as notícias que nos chegam são apenas uma das versões da história; e, ao lado Russo, apenas chega a versão contrária. Ou seja, nenhum de nós sabe a inteira verdade para poder opinar ou julgar seja quem for, imigrantes russos, por exemplo, que têm sofrido na pele apenas por serem russos!
De uma forma generalizada, num conflito, a culpa existe em ambas as partes, ainda que em medidas diferentes.
A defesa perante uma injustiça é legítima. Para além dessa defesa, qualquer “contra-ataque” passa a ser uma nova agressão! Um novo ciclo de ameaças e ataques! Apartar do qual o rótulo vítima/culpado sofre uma inversão de papéis.
«Digo-vos a vós que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica. Dá a todo aquele que te pedir e ao que levar o que é teu, não o reclames. Como quereis que os outros vos façam, fazei-lho vós também» (Lc 6,27-31).
A guerra na Ucrânia parece estar cada vez mais longe do fim, para mal de toda a humanidade.
A NATO organiza-se por forma a fazer chegar ao exército ucraniano os potentes carros de combate Leopard 2, por outras palavras, a dimensão da guerra vai sofrer uma escalada por intervenção de mais exércitos! Por seu turno, não será de esperar uma não-resposta pela parte do exército russo, e a avalanche continuará.
Quando os mesmos tanques de guerra foram solicitados ao atual Presidente do Brasil, Lula da Silva, este teve a atitude mais correta e cristã observada até agora, em vez dos tanques, ofereceu-se, ele próprio, para mediar a paz!
Enquanto ninguém lançar uma flor em resposta ao arremesso de pedras, a paz estará muito longe. Urge uma volta de 180 graus no nosso modo de agir e de pensar. Temos de, e devemos, oferecer a outra face, começar a mudar atitudes através do exemplo, parar de alimentar um rol de más ações. Insistir no mesmo erro é ser um novo culpado, é ser igual aos que criticamos. Se não formos capazes de iniciar uma mudança em nós próprios também não temos legitimidade em cobrar o mesmo aos outros, e, neste entretanto, continua a crescer o número de feridos, mortos, famintos, desalojados.
Raquel Assis – Coordenação Pastoral Diocesana