A política e a ética

Cónego Madureira da Silva, Arquidiocese de Évora

Teoricamente, existe verdadeira ação política quando os políticos orientam a convivência social, de forma a tornarem possível a realização dos direitos naturais das pessoas. Nessa linha, o comportamento dos profissionais tem de unir a política à ética. A ação política não pode ser uma espécie de terra de ninguém onde seria natural haver comportamentos antiéticos, onde pudessem alimentar-se a mentira, a fraude, a calúnia, o suborno, a corrupção. E por ser a política a gestão comum do bem comum, a todos nos interessa saber como agem os nossos representantes, eleitos precisamente para isso, para nos representar na “coisa” comum. Se é certo que o período da educação – que na realidade dura toda a vida – não atinge o seu pleno cumprimento enquanto a pessoa não adquire uma hierarquia de valores morais que lhe servem de orientação e de guia no agir, também é certo que muitos políticos parece que ainda não cresceram o suficiente na aquisição dessa hierarquia, pois, mesmo com Comissões de Ética no Parlamento, têm feito o jogo sujo de confundir a ética com a própria ideologia e, na pomposidade com que proclamam a tranquilidade da sua consciência, deixarem destapado todo o tipo de suspeições.

As realidades naturais que mais facilmente são objeto de apetência são a economia e a política, ou seja, o poder económico e o poder político. Ter dinheiro e ter poder. Na interligação entre os dois, o que mais dá nas vistas é o poder político, com o qual se torna facilitada a manobra dos cordelinhos para se obterem determinados fins favoráveis – normalmente ilegítimos (por mais legais que sejam) – usando estratagemas de embuste, mentira e subterfúgio. Esses manobradores de cordelinhos sabem ler as entrelinhas das leis e, desse modo, obtêm bons proveitos. Utilizam o chico-espertismo como técnica de iludir a ingenuidade das pessoas confiantes, mas incautas. Reparemos como se apoderam dos conceitos de família, democracia, tradição, dando-lhes “a volta”. A intenção é obter resultados eleitorais. Munidos de ideologias apropriadas, jogam também com os significados de justiça, solidariedade, tolerância, igualdade social. E quem se não apercebe do uso e do abuso que fazem da palavra liberdade, sobretudo usada no plural – liberdades?

Todos somos jogadores do mesmo jogo no campo da vida, só que uns com maior visibilidade que outros – e os políticos de profissão têm essa visibilidade! Pois bem. Em cada dia aumentam os queixumes. Todos nos sentimos defraudados. Parece-nos existir um enorme vazio nas políticas que nos haveriam de assegurar a cidadania e nos políticos que foram eleitos para exercer essa missão. Serão os programas políticos desajustados ou serão incompetentes alguns políticos que não investem o seu suor por lhes faltarem conhecimentos adequados ou terem como único programa a disciplina partidária? Talvez seja por isso que surgiu nas últimas décadas uma geração desinteressada, desiludida e descrente do que à política diz respeito.

É necessário dizer que a política não é um luxo de alguns, mas um direito e um dever de todos. Para agir politicamente, não basta querer; é necessário saber. Para saber fazê-lo, há que respeitar os princípios que ensinam a discernir, e ter capacidade de diálogo e sentido ético da vida. Se a ética manda agir de acordo com princípios comuns de consciência, a política exige que os mesmos princípios sejam observados também nos seus resultados.

 

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Agência ECCLESIA

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