Mais jornalismo sénior

«Memória» do jornalismo pode ajudar a fazer face a pressões e interesses nem sempre confessados, evitando manipulações da realidade Pode falar-se em manipulação da realidade por parte dos jornalistas? Há razões para a crescente desconfiança do público em relação aos meios de comunicação social? Rui Osório, padre e jornalista, considera que o “problema da verdade e da objectividade” é sempre relativo, porque está sempre ligado a uma expressão cultural “que passa pela dimensão profissional dos promotores da informação e de opinião, pelos interesses que estão em jogo”. “Muitas das vezes, mais do que uma culpabilidade subjectiva de quem trata as matérias, há uma falta de credibilidade de fontes que não se apuraram devidamente”, refere à Agência ECCLESIA. Este jornalista fala ainda de “factores de concorrência agressiva”, que levam a querer ter sempre em primeira mão o que é noticiável, “não olhando a meios para atingir fins”. Numa sociedade cuja ambição é o lucro, muitas são as empresas da área da comunicação que optam por ter “o mínimo de pessoal possível ou, então, numa situação precária de emprego”, enchendo as redacções de “gente sem memória do jornalismo”. “As empresas têm pouco pessoal sénior. O pessoal júnior – numa situação precária – é porventura mais susceptível de ser sugestionado por interesses nem sempre confessados do próprio sistema empresarial da comunicação social”, aponta. Por tudo isto, a objectividade e a verdade são “facilmente perturbadas”, mas Rui Osório não deixa de acreditar “na boa fé da parte dos jornalistas”. Mais do que formadores de opinião, eles “reflectem as fragilidades da própria sociedade”. Neste contexto, a Igreja deve resistir à tentação de fazer dos jornalistas “bode expiatório” desta perturbação de uma informação que não é “minimamente isenta ou verdadeira”. “A Igreja na sua reflexão deve estar, por imperativo ético, atenta à realidade dos meios de comunicação social de que ela também é titular bem como dos que não são confessionais, mas falam muitas vezes do fenómeno eclesial”, aponta. Apesar de reconhecer algumas melhorias, Rui Osório lembra, por outro lado, um passado muito longo de “suspeita” por parte da Igreja em relação aos meios de comunicação social. “A Igreja tem de perceber que, hoje, a sua mensagem não é exclusiva dos meios – mesmo dos mais modernos – da comunicação social, mas também não passa sem eles. Não basta a oralidade, as pregações, as homilias, a reflexão teológica: tem muita importância que a Igreja reconheça que os meios de comunicação social não são locais necessariamente pecaminosos”, observa. Assim, é necessária uma grande abertura perante os jornalistas que se interessem pelas questões da Igreja, para que “pelo menos na fonte da informação exista quem abra o livro todo, com transparência e franqueza”.

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