Catequese como experiência de Deus

Como primeiro responsável no serviço que a Igreja deve proporcionar ao mundo, vejo o Dia Arquidiocesano do Catequista como momento adequado para testemunhar a maior gratidão a todos os Catequistas. Dar graças a Deus pelo número e, particularmente, pelo esforço de crescente consciencialização da vocação assumida com alegria, desinteresse e profunda dedicação. Catequistas da Arquidiocese de Braga, obrigado pelo trabalho maravilhoso realizado em todas as comunidades paroquiais em algumas com óptimas condições e grande acompanhamento, noutras com alguma precaridade a partir do amor que dedicais a esta causa. Deus é a vossa recompensa. O Arcebispo está ao vosso lado e do vosso lado e permanentemente se identifica com as vossas preocupações, deixando-vos o pedido de prosseguir a caminhada sem se deter perante hipotéticas dificuldades. Acreditai, a catequese vale por si. Elogios ou desconsiderações deveriam ser, só e apenas, razão para exercer melhor este ministério eclesial. Neste reconhecimento sincero do trabalho que, em Igreja, realizais, o Dia Arquidiocesano dos Catequistas é uma espécie de abertura solene dum novo ano catequético. A paróquia é o local do tirocínio; a Arquidiocese envia e corresponsabiliza. Se se trata de início, permiti que vos peça: não deixeis de sonhar tendo diante de vós a alegre responsabilidade de suscitar encontro com Alguém que continua a bater à porta para suscitar e crescer numa amizade única e irrepetível. Sim, a razão de ser do vosso ministério é Cristo. Não estais na paróquia por mero gozo pessoal de lidar com crianças ou porque aconteceu um convite dum pároco ou dum Catequista. Cristo passou pela vossa vida e endereçou o convite para mostrardes o amor que Ele vos dedicou e permanentemente dedica. Creio ser imperioso redescobrir o essencial da vossa tarefa eclesial. Sois ou deveis ser cristãos assumidos e desinibidos. Isto exige um trabalho que pode parecer ultrapassado mas é gerador duma autêntica alegria. Não deverá chegar a hora de dizer ao mundo o que é um cristão? Como poderão saber o que significa, se não têm a oportunidade de ver e comparar? O cristão não pode contentar-se com os preceitos, com as tradições e costumes. Gastamos tempo e dinheiro, em demasia, nestas coisas secundárias e nem sempre queremos centralizar o problema. Pode ser ousado afirmar e pode ser difícil chegar lá. Mas o cristão é Cristo, e a Sua vida deve tornar-se um testemunho vivo dum Cristo vivo. A história dá-vos força para garantir que Ele é de ontem, de hoje e de sempre, mas a perpetuidade da Sua memória, que celebramos, está nas vossas mãos. No passado domingo senti-me interpelado por uma passagem de Jeremias. Olhando para as queixas do povo judeu, que via crescer a apostasia, dizia: «Porque prospera o caminho dos maus? Porque vivem em paz os pérfidos traidores? Vós as plantastes, e eles lançam raízes, crescem e frutificam» (Jer. 12, 2) Não estarão as vossas comunidades pela apatia, pela resignação, pela alegria em repetir coisas antigas e sempre iguais a «plantar» uma Sociedade que pretende encerrar Cristo nos arquivos da história? Não condeno ninguém. É uma interpelação para que leveis deste dia, como Programa pessoal para este novo ano, o dever de crescerdes no «compromisso de Fé para responder ao dom de Deus». Deus antecipa-se e bate à porta. Deixai-o entrar e viver alegremente esta amizade através da ousadia dum compromisso visível. Caríssimos catequistas, desculpai um desabafo. Estou convencido que o grande problema da catequese está aqui: numa experência de fé, como encontro com Deus, que o catequista deve fazer. Parece-me ser oportuno, muitas vezes, esquecer as crianças e a estrutura pedagógica duma sessão de Catequese para este exame de consciência prévio. Não posso ir para falar bem, com todas as estratégias, de Deus e das Suas coisas. A criança e a comunidade deve ver no catequista a coerência a este amor a Cristo. Importa que Cristo fale por vós e, para isso, é necessário escutá-Lo e acolher quanto Ele comunica. Trata-se de ter fome da Palavra de Deus e encontrar momentos de silêncio para que Ele entre e encontre espaço nas vossas atitudes quotidianas em casa, no mundo do trabalho e, consequentemente, na vida da comunidade. Ao pedir-vos este acolhimento do dom de Deus através dum compromisso de Fé, gostaria de vos situar, como responsáveis, na vossa comunidade. O serviço da catequese é importantíssimo. Só que, isoladamente, não vale. Tereis de vos integrar na paróquia, tornando-vos agentes e motivadores duma concretização do Programa Pastoral. Dedicamos três anos à Família. Este ano gostaria que todas as paróquias delineassem um projecto concreto de pastoral familiar, não só para este ano mas para ficar. Acreditamos na família. Teremos de investir nela. Também a catequese parte da família e se orienta para a família. Não ouso pedir-vos mais trabalho na paróquia. Só gostaria de esperar que cada um assumisse o seu «compromisso de fé» neste «obrigar» a paróquia a trabalhar – na catequese, liturgia, acção social, comunhão – este lema maravilhoso: «Família, dom e compromisso». Falai desta dinâmica no Conselho Pastoral Paroquial, motivai os outros grupos para descobrir os conteúdos deste itinerário pastoral, convidai casais para que também eles queiram ser anunciadores das maravilhas da fé aos filhos. Acredito que o catequista pode desempenhar um papel importantíssimo para que algo de novo aconteça na Pastoral Familiar das Paróquias de modo que as famílias encontrem em Cristo o sentido duma vida plena que ainda não conhecem. Estou a pedir-vos demais? Desculpai. Trata-se de iniciar um ano e se não somos ousados nos objectivos instalámo-nos numa vida cristã amorfa, tépida, rotineira, morna que vai «plantando» a indiferença com momentos que todos pretendem que sejam muito bonitos (primeira comunhão, profissão de fé) mas que permanecem ocos, sem conteúdos. Cristo é a nossa paixão. A fé é este compromisso com Ele que acolhemos como um dom e faremos com que os outros – crianças e famílias – O acolham. Estou a imaginar as vossas dificuldades. Ser Cristo vivo não é fácil. Não é por acaso que o cristianismo é comunhão. Isto está a dizer-nos que ninguém pode ser cristão sozinho. Também o catequista. Daí que a consciência de dever ser grupo de catequista deve acompanhar-vos sempre. A paróquia necessita de ver este grupo, uns mais responsáveis e outros menos. Só que um grupo de pessoas que assume a missão de ser catequistas torna-se fundamental. Ajuda a paróquia e os catequistas e, a partir daqui, muitas coisas poderão ser feitas. Que o vosso compromisso esteja alicerçado neste trabalhar em comum. Vou caminhar convosco. Sabei que, se pautei alto de mais as intenções, estou convosco para, também eu, acolher Cristo tornando-O vivo e operante em todas as nossas comunidades. Sameiro, 08-09-07 † Jorge Ortiga, A.P.

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