Leiga assume direcção da Casa de Saúde de S. João de Deus

Isabel Bragança é, desde Quinta-feira, a directora da Casa de Saúde de S. João de Deus, em Barcelos. Trata-se da primeira mulher leiga a dirigir aquela instituição vocacionada para o tratamento de doenças do foro mental e psiquiátrico, que pertence à Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. «O facto de ser leiga e mulher que pela primeira vez está à frente desta instituição acresce ao desafio que já está lançado só pelo facto de ocupar o cargo de direcção », afirmou a nova responsável aos jornalistas no final da cerimónia de tomada de posse. A nova directora salientou que este é o seu maior desafio profissional até à data, até porque frisou: «o que é esperado de mim é diferente do que desempenhava até agora: neste momento sou o fim de linha e não tenho a quem reportar em todos os procedimentos ». No entanto, sustenta encarar com «enorme satisfação pessoal e profissional » o novo cargo, depois de ter chefiado a direcção de enfermagem do Hospital de Santa Maria Maior, de Barcelos. «Um convite destes, numa casa que tem grande importância na rede de prestação de cuidados de saúde mental e psiquiátrica, é sempre importante», indicou Isabel Bragança. Na perspectiva da responsável, «o cargo de director, paralelamente à dimensão técnica que comporta, tem também – e não com menos importância – uma dimensão de gestão transversal». Isabel Bragança frisou que a direcção é formada por «uma equipa excepcional » que vai trabalhar em «multidisciplinaridade e complementaridade». Até hoje, a única relação que a nova directora teve com a Casa de Saúde de S. João de Deus remonta há 25 anos, quando ali desenvolveu o seu estágio profissional. Preparados para as reformas Questionada sobre os desafios a que se propõe, a directora salientou que a Saúde Mental e Psiquiátrica «não é um campo à parte da saúde no país», muito embora tenha sido, até ao presente, «um campo que não mereceu particular atenção por parte do Ministério da Saúde », porque não figura entre as prioridades estabelecidas pelo Governo. Contudo, à semelhança das reformas que têm sido realizadas no sector da saúde, Isabel Bragança crê que, mais tarde ou mais cedo, também a área da Saúde Mental e Psiquiátrica irá ser sujeita a reformas. Por isso, «o nosso desafio é estarmos preparados para termos capacidade de negociação quando chegar a altura de nos sentarmos à mesa», asseverou a nova directora. «Preparamo- nos para dizer, nessa altura, aos nossos interlocutores o que é que fazemos, porque é que somos importantes e porque temos de continuar a existir e de que forma o fazer », acrescentou. Isabel Bragança assegura que não vai antecipar nada mas, «apenas fazer um trabalho que, supostamente, qualquer organização deve fazer: ter visão e estruturar o futuro». A Casa de Saúde de S. João de Deus é constituída por cinco unidades direccionadas para determinadas área de prestação de cuidados. Por isso, a nova direcção diz pretender, de imediato, «saber “ler” a casa na sua dimensão humana, organizacional e perceber como as unidades podem trabalhar entre si». «Isto só é possível dado o excelente trabalho que a anterior direcção executou», frisou Isabel Bragança. Por outro lado, a directora garante que vai continuar a trabalhar para «desmistificar, de uma vez por todas, a questão do doente mental ou psiquiátrico». Sustentando que a reabilitação é um «vector determinante» para o êxito na Saúde Mental e Psiquiátrica a responsável não esconde que aquelas instituições precisam da sociedade «para completar a reabilitação dos doentes, sendo que, «cada vez mais, a sociedade precisa destas casas para tratar o crescente número de pessoas afectadas na sua saúde mental e psiquiátrica». Dar mais à sociedade O presidente do Instituto S. João de Deus, irmão José Augusto Louro, disse ontem na cerimónia de tomada de posse da nova direcção da Casa de Saúde de S. João de Deus, em Barcelos, a que presidiu, que o instituto sente «que neste momento tem capacidade para dar mais a uma sociedade carente de estruturas de apoio social e de saúde, numa perspectiva da continuidade dos cuidados». Por isso, o responsável nacional do instituto, que pertence à Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, revelou que a instituição quer, «num futuro próximo», sair da suas instalações, dos seus centros assistenciais que tem espalhados pelo continente e ilhas e «apoiar a sociedade nas suas carências e necessidades». Para além de lembrar a qualidade que os utentes devem merecer dos responsáveis das casas de saúde da ordem, José Augusto Louro frisou que os mesmos devem sentir-se acolhidos humana e espiritualmente. No plano interno, o responsável destacou a necessidade de uma boa relação com os colaboradores, na atenção ao «critério básico» da transparência e na abertura à sociedade.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top