Ameaça do terrorismo não atemoriza seminaristas de Moçambique
“A nossa fé é inabalável”
São apenas 25, estão ainda no seminário propedêutico, mas já sabem o que é a ameaça do terrorismo. Ainda em Outubro, a região onde se encontram, Montepuez, foi palco de um enorme ataque por homens armados que reivindicam pertencer ao grupo jihadista Estado Islâmico. Mas os jovens seminaristas dizem-se prontos para prosseguir o seu caminho. E agradecem a ajuda dos benfeitores da Fundação AIS. Sem isso, nada seria possível…
Em Outubro, durante cerca de três horas, soldados moçambicanos combateram terroristas que atacaram o acampamento da Gemrock Ruby Mine, a empresa que explora as minas de rubi, consideradas das mais importantes em todo o mundo e situadas no distrito de Montepuez. Foi uma verdadeira batalha. Os terroristas tiveram tempo para destruir praticamente tudo o que por ali se encontrava. Equipamentos, casas, veículos. Quase tudo foi queimado. Consequência imediata do ataque, a empresa foi forçada a suspender as operações. A pouco mais de 20 km de distância, fica o seminário propedêutico de São Paulo. Pertence à Diocese de Pemba, em Cabo Delgado, a região que mais tem sido fustigada pelos ataques terroristas que desde Outubro de 2017 já provocaram mais de 4 mil mortos e cerca de um milhão de deslocados. Este é um seminário muito especial. Junto ao velho edifício que acolhe os jovens está a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. É um dos mais importantes santuários marianos de Moçambique. Para os 25 futuros sacerdotes que ali estudam, há um sentimento especial. A sombra protectora da Mãe de Deus afasta o medo e funciona como uma vitamina espiritual. Guilherme Adriano é um destes jovens seminaristas. E assume que os tempos não estão fáceis. “Estamos a passar por momentos muito difíceis por causa do terrorismo, mas a nossa fé é inabalável em querer servir a Igreja e o povo de Deus.” Adriano tem 20 anos e sabe, por experiência própria, o que significa o sofrimento. A sua própria família teve de fugir por causa dos ataques dos grupos armados e hoje pais e irmãos fazem parte do gigantesco número dos deslocados. Mas isso não faz diminuir a sua vocação. Pelo contrário. “Quero cada vez mais me doar para poder servir os oprimidos, poder falar em nome daqueles que sofrem…”
Chamamento de Deus
Guilherme sabe que os seus estudos só são possíveis porque há uma mão invisível, chamada solidariedade, que ajuda a financiar a Igreja em Moçambique, os seminários e o trabalho dos sacerdotes e das religiosas. Ele sabe e agradece. “Apesar dessas dificuldades, encontramos no fundo do túnel a esperança, pois sabemos que os nossos irmãos da Fundação AIS nos ajudam. Queremos dirigir os nossos agradecimentos a esses nossos irmãos que sem nos terem conhecido nos ajudam tanto. Muito obrigado!” Pedro Mariano é mais velho. Já tem 21 anos e garante que também quer ser padre, pois descobriu que esse é o desejo que Deus tem para ele. “Mesmo nas situações difíceis que estamos a viver aqui, eu quero mesmo responder a esse chamamento de Deus”, diz. Não é uma vida fácil a que espera os seminaristas em Montepuez. Todos estão cientes das dificuldades e todos sabem também que a ajuda que chega de fora, de países bem longínquos como Portugal, é muito importante para que o sonho do sacerdócio ganhe asas. “Agradecemos aos benfeitores da Fundação AIS que, mesmo não nos conhecendo, fazem todos os esforços para nos poderem ajudar. Muito obrigado!”, diz Mariano. O actual reitor do Seminário, Pe. Dinis Gabriel, tenta amenizar as dificuldades como se isso ajudasse a resolver os problemas. “O que nos apoquenta é termos infraestruturas não muito boas, que não acolhem muito bem os nossos jovens e também temos a dificuldade de viaturas para as questões pastorais, para as deslocações.” Ou seja, faltam veículos para o transporte de padres, irmãs e seminaristas, e o edifício precisa de obras. A Diocese de Pemba é muito pobre, tal como Moçambique. Sem recursos, é preciso contar com a solidariedade de benfeitores e amigos. E a Fundação AIS tem desempenhado um papel essencial no auxílio à vida da Igreja nesta região tão fustigada pelo terrorismo. “O nosso seminário subsiste graças aos apoios que recebemos dos benfeitores”, diz o Pe. Dinis. “Em todas as celebrações rezamos por eles e estamos conscientes de que são eles que nos têm ajudado a realizar a nossa missão”, acrescenta. Uma ajuda preciosa que seguramente não escapa ao olhar bondoso e ao amparo da Mãe de Deus.
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt