Padre João Torres é responsável pelo «Presépio de Priscos», que este ano evoca vítimas da violência doméstica
Porto, 18 dez 2022 (Ecclesia) – O padre João Torres, coordenador da Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Braga, disse à Agência ECCLESIA e Rádio Renascença deveria ser uma preocupação de “todos”, a começar pelos responsáveis políticos e bispos católicos.
“A minha missão enquanto sacerdote dentro de uma prisão é ajudar a refletir: aquilo que eu sou como pessoa, lá dentro, como é que eu os posso ajudar, mas também poder ajudar a outros a refletir sobre o trabalho que fazem. No fundo, todos deveríamos estar preocupados com aquelas pessoas”, indica o convidado da entrevista semanal conjunta, publicada e emitida a cada domingo.
O sacerdote defende que deveria haver um assistente dentro de cada prisão e nos hospitais, lamentando a falta de aplicação do Decreto-Lei 253/2009, de 23 de setembro, que regula a assistência espiritual e religiosa.
“Seria bom que a sociedade civil, a própria Igreja Católica e os senhores bispos refletissem. Quantos assistentes rituais religiosos têm dentro das prisões?”, questiona o padre João Torres.
Para o responsável, a Igreja é chamada, mais do que a “fazer discursos”, a promover “um processo de humanização da própria sociedade”.
“Não se leva a sério este mundo da prisão. É um mundo segundo e nós ficamos longe”, lamenta.
Não vale a pena fazer mensagens de Natal, se nós depois, nestes locais de modo particular, não somos Natal, não ajudamos a nascer”.
O sacerdote é o principal dinamizador do ‘Presépio de Priscos’ projeto que já vai na 16.ª edição, num espaço com 30 mil metros quadrados, com mais de 90 cenários e 600 figurantes.
“Eu acredito que o Natal ajuda as pessoas a refletirem mais sobre o humano que existe nelas”, aponta.
O presépio ao vivo de Priscos à questão da violência doméstica e em particular, a violência no namoro.
“É muito importante que nós, como sociedade civil, o próprio governo e todas as instâncias de governo que lidam com esta problemática, refletirmos sobre que tipo de encarceramento nós temos no nosso país”, assinala o pároco.
Questionado sobre o envolvimento de reclusos na iniciativa, o padre João Torres assume que este foi “um caminho moroso e penoso”, que promoveu novos encontros, na comunidade.
Se conhecêssemos melhor a prisão, se os muros da prisão se fossem tornando pontes e se olhássemos mais lá para dentro, íamos perceber que há tanta gente que poderia estar num processo de liberdade, que podia ser condicionada, mas que podia estar numa situação diferente. E poderiam ser uma mais-valia para a sociedade”.
O coordenador da Pastoral Penitenciária da Arquidiocese de Braga lamenta que haja técnicos de reinserção social sem carro para se deslocarem à casa das famílias de reclusos e considera que, em Portugal, os guardas prisionais “são presos com os presos”.
“É importante que estas pessoas também sejam tratadas com dignidade para que elas próprias se sintam bem e possam tratar bem quem lá está”, indica.
O entrevistado entende que, no caso de reincidência, o julgamento deveria envolver também “aqueles que tiveram a responsabilidade de reabilitar e não o fizeram”.
Em Braga, seguindo uma tradição dos últimos anos, o arcebispo local oferece todos os reclusos um presente, que é aberto na noite de 24 para 25 de dezembro.
“A todos os reclusos e reclusas digo: não percam a esperança. A prisão não é perpétua. Mais tarde ou mais cedo, vais ser em liberdade”, conclui o padre João Torres.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)