Os sorrisos das crianças, a cumplicidade dos missionários e as diversas raizes culturais de um povo – Os 12 dias no Uganda do jornalista Henrique Matos – Emissão 15-12-2022

Durante 12 dias o jornalista Henrique Matos e o repórter de imagem Tiago Azevedo Mendes estiveram no Uganda, por ocasião da cerimónia de beatificação de Giuseppe Ambrosoli, missionário comboniano, com formação médica, que permaneceu naquele país entre 1956 e 1987, data da sua morte. Num périplo que os levou de Kampala, Gulu, Kalongo, Kalawat, Matani, Moroto e Jinja, puderam perceber as fragilidades de um país, marcado por diversas raízes étnicas e tribais, dialetos e culturas, onde o povo espera também que os missionários sejam agentes de justiça social. O cheiro a terra molhada, depois de vários dias de seca, o calor quente e húmido, próprio da linha do Equador, os paladares diferentes marcados por uma agricultura de subsistência, o sorriso de todas as crianças que com deficiências físicas jogam entusiasticamente à bola, dão o contexto ao trabalho de reportagem que não deixa de impactar quem ali se desloca.

«O distanciamento não impede a nossa sensibilidade. Para trazer o que vi para uma realidade europeia, já que não posso trazer os cheiros, tenho a força das imagens, e tenho de construir uma narrativa que ali experimentei. Esse é o objetivo do jornalismo».

«É impactante. Incomoda quando vemos alguém correr a segurar num pau, onde pés não existem, corpos que se arrastam, chutam com o braço em posição de gatas, mas todos formam uma equipa e jogam de igual para igual – não se ridiculariza ou critica. Sentimo-nos pequenos diante deste cenário»

«Encontrei uma população que faz uma vida de subsistência, vive da criação de gado, da agricultura, de pequenas coisas. Em outros países africanos assim acontece, vi isso em Angola e Moçambique – nestes países não é comum ter-se acesso a um vencimento mensal, o grosso da população vive de negócios próprios»

«É interessante perceber como, numa casa onde chegam 30 missionários vindos dos Estados Unidos, Alemanha, Africa, Filipinas, e a forma como se reveem – não é gente estranha. Muitos já trabalharam juntos, em comunidades, em diferentes locais do mundo; alguns não se veem há 20 ou 30 anos mas é muito enriquecedor ver como estes homens partilham uma experiência de missão, amizade e cumplicidade de um passado que têm e um presente que desenvolvem junto das pessoas. Uma cumplicidade maior que se expressa também na dificuldade de trabalhar em países em guerra, com as carências mais diversas, pela perda de missionários colegas de comunidades mortos no exercício da sua missão – não por perseguição à Igreja mas por criminalidade comum – e percebemos como isso cria uma união muito forte entre estes homens».
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