Espiritualidade familiar para um mundo novo

A X Assembleia Mundial e a XIV Assembleia Geral da Conferência Internacional de Movimentos de Famílias Cristãs (CIMFC) aconteceu em Fátima e quis abordar a temática: “O Legado de Fátima à Família, Espiritualidade e sacrifício”. Representantes de países e de Movimentos diferentes, unidos no intuito de proporcionar meios de reflexão e oração à Família para que ela se apresente, no mundo e na Igreja, como verdadeiro Santuário onde se encontra a felicidade trilhando os caminhos do Evangelho, congregam-se, agora, em Eucaristia. Como Assembleia de convocados damos graças a Deus pelo dom da Família de Nazaré e queremos intuir algo que Fátima poderá proporcionar como “Legado”, ou seja, apelo às Famílias crtistãs de Hoje. Diante de Maria, deveremos reconhecer a beleza dum viver em família com uma fidelidade ao projecto dum lar cristão que se assume como oriundo da SantissimaTrindade, interpretando maravilhosamente por Maria, José e o menino Jesus, e reconhecido como alternativa inquestionável para uma plena realização das pessoas que a integram. Para muitos poderá ser utopia; para o crente é graça e dom de Deus que se desenvolve no meio de lutas e canseiras. Ao reconhecer a família cristã como espaço de felicidade humana, não nos iludimos nem ignoramos as dificuldades. As grandes causas exigem “companheiros de jornada” que se apoiam e estimulam nas horas das dificuldades e saboreiam o gozo da delícia que é a presença de Cristo no meio de casais cristãos. Isto sublinha a actualidade e a importância dos Movimentos de Famílias Cristãs. Dizem os filósofos que este século deverá ser “místico” e o Papa João Paulo II caracteriza a espiritualidade de comunhão como a única capaz de responder aos inúmeros problemas. A vossa presença neste Congresso está a proclamar que, no meio dos afazeres profissionais, conjugais e eclesiais, é possível e necessário deixar outras hipóteses de ocupação do tempo para estar em comum e dar as mãos seguindo espiritualidades diferentes mas norteadas pelo mesmo objectivo de oferecer vida em abundância às famílias cristãs. Talvez o passado nos conduzisse por caminhos iguais. Hoje necessitamos dum Pentecostes através de Movimentos que no seu carisma variado responda a exigências diferentes dos casais e a problemáticas especiais. Também aqui se impõe este hino no jardim policromado da Igreja que nos orgulha e assegura que temos meios e ajudas suficientes para que a Família seja o que deve ser. Louvemos, por isso, o Senhor pelos dons do Espírito concedidos a diversos fundadores e que vós procurais seguir com alegria e entusiasmo. Ser família hoje não é fácil. Se os Movimentos ajudam, os casais devem acolher um itinerário pessoal sempre a partir duma espiritualidade. Foi um dos aspectos da vossa Assembleia. Sem espiritualidade não é possível concretizar as exigências duma vocação familiar. Diante de Maria convido-vos a uma vida espiritual séria que nunca deveis interpretar como algo a acrescentar ao vosso quotidiano. Ela deve ser vivida todos os dias e em todas as ocasiões mas sempre como acção do Espírito Santo que S. Paulo explica de muitas maneiras. “Vida escondida com Cristo em Deus” (Col. 3.3), vida do “homem interior que se vai renovando a cada dia” (2 Cor. 4.16), vida que é Cristo em nós (cf. 3.4), “Vida nova, na qual o cristão caminha (cf. 6.4), “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal. 2,20), “para mim viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fil. 1, 21). Nestas palavras reconhece-se que a vida espiritual não é algo meramente litúrgico ou de orações. É uma verdadeira ciência que se adquire através dum confirmar a vida real com a de Jesus Cristo. É uma experiência de Deus a exigir conversão permanente para um seguimento de Cristo. Tudo poderá parecer demasiado irrealista. A oração torna esta espiritualidade possível. O Evangelho que acabamos de ouvir apresenta-nos Deus como o Pai Bom que sabe dar as coisas boas aos seus Filhos; daí a importância de pedir a sabedoria para conduzir a vida como encontro com Deus, de bater à porta para o dom da inteligência que faz compreender a verdadeira dimensão dos acontecimentos reconhecendo que há sempre uma porta que se abre quando parece que tudo se fecha, de procurar os melhores caminhos para encontrar a vontade de Deus para todos e cada membro do lar e em cada momento concreto. A oração não é assim um refúgio mas uma atitude de confiança num Deus Pai que quis caminhar connosco. Não é por acaso que todos os Movimentos cristãos ajudam a rezar e propõem o dever de o fazer. Só com Deus se consegue uma fidelidade e o grande problema das famílias está aqui: não ter tempo para estar com Deus e iniciar os filhos nesta aventura de intimidade. Rezamos pouco e mal. Quase sempre nos limitamos a preces em momentos de aflição. Urge ter um programa e procurar, no realismo da vida, ser fiel. Alguns consideram perder tempo. O crente acredita que Deus pode tudo, não tira nada e sabe distribuir as graças oportunas para os diferentes momentos. Caríssimos peregrinos, Fátima é, antes de mais, um local de oração como encontro com Deus. Muitas pessoas encontram-se aqui precisamente como famílias. Não deveríamos sentir necessidade de rezar como família nas nossas casas e nas nossas comunidades? Quotidianamente deparamos com famílias inteiras a participar na Eucaristia. Não será um número reduzido? Se o futuro depende da família, o futuro da família depende da vida espiritual e, concretamente, da oração. Nesta consciência do que poderá acontecer amanhã neste presente de agnosticismo e indiferentismo religioso, devemos aceitar que o futuro da Igreja também depende das famílias e da qualidade que elas manifestam. Mais ainda. Não vale a pena fixarmo-nos no número e acreditar que só as multidões conseguem marcar o ritmo da sociedade e da Igreja. Os números pequenos provocam revoluções. Basta querer. A primeira Leitura sugere-nos isso mesmo. Em atenção a algumas famílias, talvez em número reduzido, Deus não permitirá a destruição da nossa civilização. Um pequeno grupo consegue coisas impressionantes. Quem não o vê nas comunidades? Por vezes deixamo-nos alarmar por tantas coisas negativas. O nosso empenho na família é esperança dum mundo melhor pois “Deus fez que voltásseis à vida com Cristo” e quis “anular o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz”. Desta esperança nos alimentamos. A cruz de Cristo caminha à nossa frente não só como objectivo de devoção mas como dado redentor. Maria está ao lado desta cruz das famílias e com o Seu “estar” dá força e coragem para que renovemos a nossa fidelidade aceitando o dever duma verdadeira espiritualidade com a qual transformaremos o mundo. Fátima, 29 de Julho de 2007 + D. Jorge Ortiga

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