O arquitecto de Fátima

Do processo criativo às influências: a arquitectura do Santuário de Fátima depois de 1975 Este ano, o Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, comemorou as suas Bodas de Prata. Projectado pelo arquitecto José Carlos Loureiro esta é uma das obras com maior fôlego do Santuário de Fátima. “Na altura pediram-me um grande auditório, com capacidade para 2040 pessoas, e uma sala polivalente para 600 pessoas, com a possibilidade de se dividir em três. Há também um núcleo de salas para trabalhos de grupo” – recordou à Agência ECCLESIA José Carlos Loureiro. E avança: “tem condições excelentes para a realização de congressos”. Demorou três anos a construir (1979 a 1982) e foi inaugurado na Peregrinação Internacional Aniversária de Maio de 1982, por João Paulo II. Este arquitecto, com 81 anos de idade tem o seu atelier no Porto, mas “sou beirão (Oliveira do Hospital)” – disse. Passados 25 anos, José Carlos Loureiro realça que os arquitectos são “obrigatoriamente criativos”. Hoje, “não faria aquela obra exactamente assim” apesar de “não estar descontente com o trabalho realizado”. E confidencia: “Mons. Luciano Guerra pediu-me para fazer um refrescamento do Centro Pastoral Paulo VI”. O projecto não está na gaveta. Este arquitecto pensa alegrar o espaço “com cores mais abertas e claras”. “Ganhava se fosse mais luminoso” – sublinhou José Carlos Loureiro. E adianta: “O resto acho que funciona bem porque tem uma boa acústica e visibilidade. O processo criativo demora tempo Como em todas as profissões – a do arquitecto não foge à regra – o processo criativo demora o seu tempo. “São projectos muito complexos” visto que “evoluimos conforme as circunstâncias e as determinantes que temos à nossa volta”. Passados 25 anos tem novas ideias para o espaço. “Não é remodelação é apenas refrescamento”. A recordar os momentos de inspiração para construir o Centro Pastoral Paulo VI, o arquitecto José Carlos Loureiro reconhece que “há sempre influências” mas a arquitectura “não é um fenómeno onde tenhamos que estar a criar constantemente”. É um fenómeno evolutivo. As grandes catedrais “fizeram-se ao longo de séculos”. Primeiro o estilo românico (demorou alguns séculos), depois apareceu o gótico, mais tarde o barroco. “Houve sempre uma grande evolução”. Na arquitectura “não inventamos cada dia que passa. Quando isso acontece sai muitas vezes disparate” – sublinhou. Para além do Centro Pastoral Paulo VI, o arquitecto José Carlos Loureiro realça que construiu também a Capelinha das Aparições, a Casa do Carmo e das Dores, Sanitários, Parques de Estacionamento. “Só não fiz a grande basílica” – disse. E acrescenta: ” Fiz tudo o que se fez em Fátima desde 1975″. Ao falar da nova Igreja da Santíssima Trindade, José Carlos Loureiro garantiu que também concorreu para a construção do novo templo. E explica o seu projecto: “Não tinha forma circular. Tinha uma forma de anfiteatro grego. Um leque a convergir para um palco (o altar). A ligação ao Centro Pastoral Paulo VI fazia-se por debaixo da Basílica. As pessoas passavam por debaixo da basílica, pelo túnel que lá existe”. Quando define o seu estilo arquitectónico, José Carlos Loureiro afirma peremptoriamente: “Não sou Pós-Modernista”. E explica: ” O Pós-Modernismo foi uma das tais aberrações que apareceram, aí, num dado momento. Fui sempre um modernista e um contemporâneo que procura estar a par das grandes correntes da cultura arquitectónica. Fui, de alguma forma, um adepto da arquitectura racionalista mas moderada. A arquitectura é para as pessoas. Não pode ser apenas uma obra de arte pela arte. Se tal acontecer estamos a meter água”. Ao falar da Capelinha das Aparições, José Carlos Loureiro esclareceu que aquele espaço – com cerca de 900 metros quadrados (30 por 30) – não é diminuto. Na altura pediram-lhe para criar um espaço de abrigo para que, no dia a dia, as pessoas pudessem estar com algum conforto, à volta da pequena capela. “Esse problema também se pode colocar em relação à nova igreja. Porquê 9000 pessoas se muitas vezes estão lá centenas de milhar? A capelinha é para todos os dias e não para as grandes peregrinações. É impossível cobrir 500 mil pessoas”. A grande maioria das vezes – cerca de 500 – que foi a Fátima foi em trabalho. “Costumo dizer que sou o maior peregrino de Fátima” Projectou uma obra inaugurada por João Paulo II (Centro Pastoral Paulo VI) e outra onde João Paulo II pernoitou (Casa do Carmo). As suas obras estão ligadas ao antecessor de Bento XVI? Estive uma vez com João Paulo II que “me cumprimentou” e “já estive também várias vezes no Vaticano”. Perante a pergunta: Já projectou algo para o Vaticano? “Sou demasiado pequeno para isso apesar de ter quase um metro e oitenta”.

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