«Era um homem silencioso, falava pouco, mas dizia coisas que ficavam no ouvido das pessoas» – D. João Marcos
Beja, 07 nov 2022 (Ecclesia) – A Diocese de Beja celebrou este domingo a vida, obra e testemunho de D. Manuel Falcão, que foi bispo naquele território durante 24 anos, antecipando o centenário do seu nascimento que se assinala a 10 de novembro.
“Era engenheiro, era um homem prático, muito prático: preto é preto, branco é branco. A simplicidade e a sabedoria deste homem sempre me impressionaram. Era um homem silencioso, falava pouco, mas quando falava dizia coisas que ficavam no ouvido das pessoas”, disse D. João Marcos, em declarações à Agência ECCLESIA, após a Eucaristia celebrada na Sé.
Segundo o atual bispo de Beja, D. Manuel Falcão foi alguém que “não desperdiçava palavras”, características importantes na sociedade atual, citando palavras de D. Albino Cleto (bispo de Coimbra entre 2001-2011, que faleceu em 2012) para evocar um dos seus antecessores como “um santo e um homem digno de ser lembrado e, eventualmente, de ser canonizado”.
“Neste momento são coisas que se vão falando, é uma voz, a voz do povo, digamos, que a certa altura se consolida ou não”, acrescentou D. João Marcos, adiantando que da parte da diocese há abertura para que se avance com o processo de canonização.
O Senhor D. Manuel Falcão era conhecido como o ‘engenheiro das almas’. Foi o título de uma entrevista que lhe fizeram num jornal de grande movimento no nosso país”.
O padre José Maria Afonso Coelho, da Diocese de Beja. uma pequena “síntese” da vida do antigo bispo, de cerca de 30 páginas, que foi distribuída este domingo.
O sacerdote assinalou, em declarações à Agência ECCLESIA, que “há muito que investigar sobre esta figura grande” e que está a tentar reunir os seus escritos.
O entrevistado realçou que D. Manuel Falcão “fez um enorme trabalho” em Beja sobretudo na renovação desta Igreja, nas estruturas diocesanas, na criação de planos e programas pastorais, “na linha também da reforma e da renovação do Concílio Vaticano II”.
Dinamização missionária, estudos sociológicos, recenseamento da prática dominical, “indicadores do que é preciso fazer”, criação de pequenas assembleias familiares, destacou ainda o sacerdote que conhecia D. Manuel Falcão desde 1975, “com 14 anos trabalhava como porteiro nos Jesuítas e muitas vezes o acolhi”.
D. Manuel Falcão, que nasceu a 10 de novembro de 1922, na freguesia de São Mamede, em Lisboa, serviu a Diocese de Beja durante 24 anos, primeiro como bispo coadjutor, entre 1975 e 1980, e depois como bispo diocesano, entre 1980 e 1999.
O responsável faleceu no dia 21 de fevereiro de 2012.
A celebração comemorativa do centenário de nascimento de D. Manuel Falcão foi presidida pelo núncio apostólico da Santa Sé em Portugal, com a participação de vários outros sacerdotes desta Igreja local e bispos titulares e eméritos da Província Eclesiástica de Évora (Dioceses do Algarve, Beja e Évora) e de Portalegre-Castelo Branco.
“Entendemos que uma das maneiras mais belas e fecundas de recordar a pessoa e o ministério pastoral de D. Manuel Franco Falcão é amar e cuidar desta Diocese de Beja que ele, imitando Jesus Bom Pastor, tanto amou e serviu generosamente”, disse D. Ivo Scapolo, representante diplomático do Papa, no final da celebração na Sé.
Após a Eucaristia, realizou-se uma sessão solene, no salão do Centro Pastoral do Seminário de Beja, onde foi apresentado o pequeno filme sobre D. Manuel Falcão intitulado ‘’Traços de uma personalidade, que recordou a sua atividade pastoral e contou com dois testemunhos, o da sua irmã Maria Luísa Falcão e do padre José Maria Afonso Coelho.
“As memórias que conservamos dele são sempre alegres, sempre positivas, de uma pessoa muito serena, de muito bom conselho, calado, mas com sentido de humor. Sempre disponível para quem precisasse dele, sempre interessado, com um grande sentido dos outros. Para ele não queria nada de especial, mas estava sempre atento às necessidades e aos desejos dos outros e foi uma pessoa que nos deixou uma grande saudade, mas uma grande alegria de o termos tido como pessoa de família, e de o termos agora no céu como pessoa de família”, disse a irmã mais nova do bispo homenageado, à Agência ECCLESIA.
Já António Falcão, 15 anos mais novo, mas que esteve “sempre muito ligado” a D. Manuel Falcão, e como ele também fez o curso de Engenharia Mecânica, destacou a importância desta comemoração pelo centenário do seu nascimento.
“Tanto quanto sei o meu irmão teve um papel muito importante aqui na Diocese de Beja; Ele fez aqui uma obra muito importante, em que aproveitou as muitas qualidades que tinha, não só da parte espiritual, mas também da parte das infraestruturas da diocese”, observou.
A Diocese de Beja inaugurou ainda uma pequena exposição dedicada a D. Manuel Falcão com objetos pessoais, como paramentos litúrgicos e livros, no Seminário de Beja.
CB/OC