Docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa comenta eleições num país «inegavelmente dividido»
Lisboa, 03 nov 2022 (Ecclesia) – Alex Villas Boas, docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, disse à Agência ECCLESIA que o Brasil é um país “inegavelmente dividido”, no qual a amizade social é um “desafio”.
“Há um país que inegavelmente está dividido, as urnas não deixam camuflar essa dimensão e eu diria que há uma necessidade da construção de um nós para usar uma expressão do Papa Francisco na Fratelli Tutti, esse nós está ligado necessariamente ao abandono de uma perspetiva dialética que vê o mundo entre nós e eles, é um pecado original da modernidade”, explica.
Alex Villas Boas refere que, após a vitória de Lula da Silva nas eleições presidenciais, há um “desafio” já que o país “nunca teve uma experiência concreta de um pacto em torno do papel do Estado”.
“Eu diria que, nesse sentido, em época de discernimento, em época de amizade social, é importante que se estabeleça claramente que é um país que tem pessoas diferentes com problemas comuns e que precisam encontrar soluções cooperativas”, sustenta.
Na entrevista ao programa ECCLESIA (RTP2), emitida hoje, o docente da Faculdade de Teologia indica que “há um descontentamento crescente”, num “país com muitas desigualdades”.
A relação entre o presidente e o vice-presidente eleitos, Lula e Alckmin, “adversários históricos”, vai exigir diálogo.
“Dadas as circunstâncias, há um momento em que esses dois têm de conversar, portanto é possível que haja aqui a necessidade da criação de um nós e pensar como o projeto europeu”, aponta.
Alex Villas Boas entende que deve haver “muita habilidade” e um “projeto de escuta muito grande” a que a realidade do Sínodo, na Igreja Católica, vai ajudar.
Penso que o papel da religião agora é fundamental sobretudo de resgate dessa tradição de diálogo, de reduzir as polaridades e de ampliar os atores do diálogo, uma ampla escuta da população, acho que nesse caso o sínodo vem muito a calhar”.
Para o docente universitário, “não há resposta simples para problemas complexos”, como é o caso da situação no Brasil.
“Se essa nova configuração despertar uma geração que entenda a necessidade desse pacto em função do papel do Estado, é possível que a gente pense em políticas públicas que promovam esse processo”, conclui.
PR/SN