Nascido durante a pandemia, serviço despista entre «lutos naturais e patológicos»
Lisboa, 31 out 2022 (Ecclesia) – A paróquia de Alhos Vedros, na Diocese de Setúbal, criou, em tempo de pandemia, um gabinete de apoio ao luto, apostado em ajudar quem procura este serviço a “saber lidar com as perdas”.
“A perda é algo que está presente diariamente na vida. Saber lidar com a perda é algo que temos de reconhecer: o que se pensa, sente e o que se faz perante uma perda”, explica à Agência ECCLESIA Carina Carrilho, psicóloga e coordenadora do gabinete de apoio ao luto.
A especialista indica que é função do serviço colocar quem os procura perante as diferentes fases do luto: “a negação, o choque, a tristeza, e só no fim, se assim conseguir, aceitar a perda”, havendo ainda situações de “luto patológico” onde as pessoas não conseguem avançar nas diferentes fases.
Perante os casos apresentados, o gabinete “fazia o despiste” entre a pessoa ser “acompanhada naquele local ou por alguém especializado da área da saúde mental”.
“Um luto saudável vai fazer diminuir o sofrimento na vida da pessoa. Se assim acontecer a pessoa fica bem, sem consequências para a sua integridade física e mental. Se for um luto mais prolongado, em que a tristeza, a culpa, cansaço físico, apatia e ansiedade se mantiverem ao longo de algum tempo, já se torna luto patológico. Muitos casos ficaram entre o aconselhamento e a direção espiritual, que disponibilizamos na paróquia”, adverte.
Carina Carrilho recorda que, em plena pandemia, o gabinete era confrontado com situações de desconfiança e desconhecimento perante a pessoa que estava a ser velada, “porque as cerimónias eram diferentes e não se podiam abrir as urnas”.
“Apareceram pessoas revoltadas por desconhecer se o seu ente querido estaria ou não dentro da urna”, relembra.
A responsável recorda terem recebido um pedido de uma pessoa que se queria preparar para o final da sua vida.
“«Eu vou morrer, como é que eu me preparo para isso?» foi uma pergunta que nos chegou ao gabinete”, relembra a psicóloga como a mais “desafiadora” que recebeu.
Carina Carrilho sublinha ainda que o luto pode acontecer a partir de um acontecimento, não apenas com a morte de uma pessoa: “A morte de um animal de estimação, um acontecimento na vida, tudo tem de ser valorizado”.
O gabinete, localizado na paróquia de Alhos Vedros, está em estreita ligação com o pároco, padre Nuno Pacheco, que providencia não só “acompanhamento espiritual mas também humano”.
A Igreja Católica assinala anualmente, a 2 de novembro, a ‘comemoração de todos os fiéis defuntos’, que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.
Este costume depressa se espalhou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar três Missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.
Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).
HM/LS/OC
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