D. Manuel Clemente destacou o «tanto a fazer» na cidade, da habitação à educação, do trabalho à saúde, da cultura «ao acompanhamento de cada um em todas as fases da existência humana»
Lisboa, 26 out 2022 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa referiu que “o diálogo intercultural e inter-religioso continua a desafiar hoje”, numa homilia lida na Solenidade da Dedicação da Sé, na qual assinalou que “muitos e muitos dos jovens de todo o mundo” vão visitar a catedral na JMJ 2023.
“E a nossa Sé há de reviver e oferecer em quantidade aumentada o muito que guarda do melhor que albergou. Nas mais diversas línguas, como aconteceu outrora – e para toda a gente, como deve ser. Porque é do corpo eclesial de Cristo que falamos sempre. – É o seu templo vivo que nós somos hoje”, escreveu D. Manuel Clemente.
A homilia para a celebração dos 872 anos da Dedicação da Sé Patriarcal destacou que o “diálogo intercultural e inter-religioso continua a desafiar” hoje como noutros tempos, “mais ou menos conseguidos”.
“Recordemos que até ao fim do século XV puderam viver em Lisboa cristãos, judeus e muçulmanos e que essa mesma coexistência inter-religiosa está de novo possibilitada de há dois séculos para cá”, salientou na reflexão que foi lida por D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa que presidiu à celebração, no final de tarde desta terça-feira.
Aproveitemo-la para crescermos em conjunto, pessoas com pessoas numa cidade que seja de todos para todos. – E há tanto a fazer para que assim seja mesmo, da habitação à educação, do trabalho à saúde, da cultura ao acompanhamento de cada um em todas as fases da existência humana!”.
D. Manuel Clemente acrescentou que é nesta frente comum de solidariedade autêntica que “o corpo de Cristo revive e se oferece em cada gesto cristão”, por isso, o que celebram naquela sé dedicada tem de “ter continuidade em atitudes conformes” com o que ouviram e celebram.
“Ainda mais do que porta de entrada de peregrinos ou turistas, aquele grande portal há de ser uma constante saída missionária – como o foi para tantas cristandades que daqui partiram e como há de ser para tantas urgências que nos reclamam de perto. É assim que o templo vive no que acolhe e no que expande. Porque é sinal do Cristo de sempre, que ganha hoje o rosto dos seus, que igualmente o são para todos”, desenvolveu.
O responsável católico, especialista em História da Igreja, recordou que os cristãos já existiam neste território “desde o século III ou IV, sob o sucessivo domínio de romanos, visigodos e árabes”, que a Sé de Lisboa “marca por excelência” o princípio da fase portuguesa da diocese, “de meados do século XII em diante”, e pediu que se evitem “expressões genéricas” mas fixem-se nas pessoas que ali viveram e das quais são “igualmente herdeiros”.
O cardeal-patriarca começou a homilia da Solenidade da Dedicação da Sé de Lisboa com a citação do Evangelho – «Jesus respondeu-lhes: “Destruí este templo e em três dias o levantarei”. […] Jesus falava do templo do seu corpo”» – observando que é dessas palavras que decorria o que estavam a fazer na Sé.
Construída no reinado de D. Afonso Henriques, a Sé de Lisboa é considerada a “igreja mais antiga da atual capital portuguesa, terá começado a ser edificada em 1147”.
CB/OC