Padre Laurent Basanese, especialista no diálogo com o Islão, apontou a «novo paradigma» no mundo da Educação
0Lisboa, 14 out 2022 (Ecclesia) – O padre Laurent Basanese, especialista no diálogo com o Islão, no Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso (Santa Sé), afirmou hoje que a violência e o conflito resultam da incapacidade de formular respostas “articuladas”, na humanidade.
“A guerra é sinal da incapacidade de resolver questões fundamentais de forma articulada, de forma complexa”, disse o jesuíta francês, numa conferência sobre a ‘Fraternidade sem Fronteiras e o Documento de Abu Dhabi’, no Congresso Missionário 2022.
O professor na Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma, destacou que “identidade e diálogo não são opostos”.
“O outro não é necessariamente um inimigo que se tenha de temer, respeitar de longe ou destruir. Também pode ser um aliado, um sócio, um amigo”, sustentou.
Para o padre Basanese, é necessário um “novo paradigma formativo” para a universidade, já que o futuro vai requerer “competências transdisciplinares”, superando a pretensão de impor um pensamento único.
O membro da Cúria Romana questionou a ausência das religiões nos estudos globais, abordadas quando muito de um ponto de vista “sociológico”.
“É importante considerar o homem na sua complexidade”, porque é “movido por crenças e paixões”, acrescentou.
As Congregações Missionárias, as Obras Missionárias Pontifícias – Portugal e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) organizam, entre hoje e amanhã, o congresso ‘Fraternidade sem fronteiras’, que decorre no auditório Cardeal Medeiros, da UCP, em Lisboa.
A intervenção inicial estava, segundo o programa, a cargo do prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso (Santa Sé), cardeal Miguel Ángel Ayuso Guixot, que não interveio devido a problemas de saúde.
O padre Laurent Basanese aludiu à função da educação na “mudança radical de paradigma”, como pede o Papa Francisco, em favor do seu sonho de uma “humanidade mais fraterna”.
O responsável da Santa Sé falou da “fragmentação do conhecimento” que se produz no mundo oriental, convidando a “redescobrir o espírito de liberdade educativa”, para encontrar “outras maneiras de formar o homem de amanhã”.
A formação das novas gerações deve ter como objetivo que os indivíduos e as nossas comunidades não sejam rígidos, mas flexíveis, vivos, abertos e fraternos”.
Para o conferencista, é necessário apostar na “complexidade”, articulando as pessoas “com o outro de si mesmo”, investindo em áreas desconhecidas ou esquecidas da própria personalidade.
“Não há eu sem nós. Não há nós sem eu”, observou.
Os trabalhos do Congresso Missionário 2022 partem do documento de Abu Dhabi – a declaração centrada na fraternidade humana assinada pelo Papa Francisco e pelo grande imã de Al-Azhar – principal autoridade do Islão sunita – Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019, nos Emirados Árabes Unidos.
O padre Basenese destacou a importância deste encontro na península arábica, “muito simbólico”, que permitiu “derrubar a crença determinista da rivalidade secular” entre Islão e Cristianismo.
Os oradores incluem a reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, Guilherme de Oliveira Martins, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP, Diana de Vallescar Palanca, e o cardeal José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação.
O programa apresenta dois painéis, um dedicado às religiões monoteístas, com um representante do judaísmo, do islamismo e do cristianismo; e o segundo às “religiões místicas”, o hinduísmo, o budismo e o catolicismo.
OC