Professores universitários desafiados ao «compromisso humanista»

O encontro de docentes universitários europeus foram pautados de muita reflexão, que consequentemente pediu “compromissos exigentes aos participantes”. Helena Valentim, do Serviço Nacional da Pastoral do Ensino Superior, dá conta de dias muito intensos com reflexão centrada em quatro grandes temas que serviram de fio condutor para no final lançar desafios aos docentes congregados em Roma. 3000 professores, oriundos de todos os países europeus, congregaram-se em Roma para reflectir no “Novo Humanismo para a Europa”. Centrados a partir de quatro grandes temas que abriram, depois a uma reflexão mais ampla. Ser humano: genealogia e biografia; A cidade dos homens: sociedade, ambiente e economia; Visão das Ciências: descobertas, invenções e tecnologias; Criatividade e Memória: história, literatura, linguagem, arte, conduziram os três dias. Sessões paralelas, em sintonia com as quatro grandes áreas, ofereciam depois aos participantes possibilidade de, de forma mais próxima, trocar experiências, partilhar desafios e preocupações comuns, dentro da área de saber de cada docente. De acordo com o interesse de cada participante, “foi possível aprofundar um tema que mais interessasse”, explica Helena Valentim que destaca estas sessões como momento particularmente importantes, onde “se encontraram desafios e questionamentos comuns”. Professora de Linguística na Universidade Nova de Lisboa, Helena Valentim constata que “há uma inquietação no meio universitário, mais que não seja, pela natureza humana”. O tempo de exigência que a sociedade vive, o facto de a universidade está estar a lidar com o Tratado de Bolonha, “faz-me sentir que não está a ser feita uma reflexão sobre questões que seriam importantes que terão consequências no universo universitário” – currículos, encerramento de cursos em detrimento de outros menos rentáveis, falta de alunos, “confere a este quadro um critério economicista, que em si esquece outros critérios”. O novo humanismo para a Europa, que deu mote ao encontro em Roma, quer encontrar eco “na universidade, porque é lá que se vai formar o futuro das gerações” e estas instituições devem ser “motores de renovação”. Uma expressão que Bento XVI retomou e que Helena Valentim guardou como essencial para esta missão é “a caridade intelectual”. A dimensão da caridade intelectual que faz uma síntese das actividades, a relação que se constrói com os outros, que pede um agir responsável “que não é apenas uma solidariedade mas situa-se mais no âmbito da caridade”, pois decorre do sentimento de “sermos irmãos e que a relação que nos liga é de fraternidade”. O desafio lançado foi “muito a nível pessoal”, explica, não esquecendo que os participantes se encontram inseridos em estruturas e que “somos nós que as fazemos”. Do programa do encontro constava uma audiência com o Papa. Altura para ouvir o repto dos desafios no meio universidade, face a mudança cultural “maciça que a sociedade sofre” – a democracia, a justiça social, o multiculturalismo são desafios colocados à Europa e “surge de forma premente na universidade”, que, como lugares de formação das gerações futuras são o espaço onde estas questões têm de ser reflectidas e “criar pensamento sobre a realidade”, destaca Helena Valentim. Bento VXI exortou os professores a “pensar em soluções criativas”, tendo o homem como vector central “onde se inclui a sua transcendência”. Os cerca de 45 participantes portugueses foram “na sua maioria” congregados pelas Pastorais universitárias diocesanas. Esta realidade confere um enquadramento de “reforço na acção onde se encontram”. Pede isto uma intervenção e um compromisso com o que foi reflectido nestes dias bem Roma. A professora de Linguística reforça que “os professores vieram com vontade de promover situações conjuntas”. A começar pela formação “que sentimos que os professores carecem”, para fundamentar algumas decisões “principalmente em áreas mais sensíveis da docência e investigação”, explica, destacando áreas da bioética e economia, por exemplo. Com vista a colmatar esta necessidade, os professores querem solicitar, quer à estrutura eclesiástica ou a especialistas com reflexão feita, a criar situações de formação nestes âmbitos – nomeadamente sobre “a visão cristã do homem e áreas onde estamos a tocar limites no que diz respeito à condição humana”. Surgiu também o desafio destes encontros serem retomados. Com base no Ano Internacional do Diálogo Inter cultural, “foi lançado o repto de algum dos organismos participantes neste ano, se disponibilizar para, sob o tema geral do ano, promover novo encontro de reflexão”, relembra. Continuar a reflexão, pois estas são áreas que “não se esgotam” é outro projecto decorrente da participação nestes três dias de encontro. “A partilha da reflexão que for sendo feita também é importante, até a entidades governativas”, numa forma de envolver as próprias pastorais e ligá-las “mais à Conferência Episcopal Portuguesa que é receptiva”. Há que fazer eco.

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