Países pobres não precisam de paternalismo

Isabel Monteiro da Cáritas Portuguesa analisa «poucas conclusões do G8» “A cimeira do G8 não trouxe uma evolução e um compromisso efectivo quanto aos países pobres e ao perdão da dívida que neste momento atinge muitos milhares de dólares”, afirma Isabel Monteiro, vogal da direcção da Cáritas Portugal. De uma primeira análise, da última reunião do G8 em Heiligendamm, na Alemanha, Isabel Monteiro sublinha que mesmo sobre as alterações climáticas e a problemática da ecologia,há uma vontade de alguns países mas “uma vontade esquecida e pouco assumida”, afirma de forma eufémica. Os interesses económicos continuam num lugar cimeiro aos ecológicos, afirma tendo como base “a posição do próprio presidente da América, que dá um «passinho» à frente, mas pouco convicto”. Por isso afirma não perceber “grandes conclusões na conferência do G8, nomeadamente sobre as grandes questões da humanidade” – desequilíbrio ecológico, pobreza e esforço pela paz e reconciliação. “Não foram tomadas posições sólidas, coerentes e que desenvolvam uma intervenção”. A vogal da Cáritas Portuguesa explica que não é possível continuar a apostar numa sociedade meramente economicista e defender os interesses do meio ambiente, situação que se reflecte num quadro de política mundial. A Cáritas manifesta-se contra esta política que “provoca uma grande ruptura na humanidade”. Os países do Norte têm transformado a sua ajuda económica em informação e intervenção directa no terreno, “o que não me parece nem justo nem equivalente ao que foi assumido”, quando o que foi reiterado foi “uma ajuda monetária para diminuir a dívida dos países pobres. A ajuda não pode ser paternalista e os países ricos o que pretendem é outro tipo de intervenção no terreno”. Este tipo de ajuda pode conduzir a um “novo colonialismo ou à defesa de interesses próprios nos locais”. Falta um consenso internacional, “mas também uma vontade efectiva de ajudar os países”, que se revêem nos interesses económicos e não deixam que as pessoas se assumam e tenham uma vontade política forte e “enquanto nos mantivermos no politicamente correcto não se consegue uma mudança de estruturas e de mentalidades”. Estão iminentes os grandes desafios das emergências – imigração, emigrantes, Sida “e a problemática daí decorrente nos países africanos e na própria Europa”, e a justiça. “Estes são valores”, indica e não mero instrumento para chegar a “outros interesses económicos”. Se o mundo e as sociedades encaram mudanças globais, “porque é que só os grandes se reúnem para definir estratégias? E são considerados grandes porquê?”, questiona Isabel Monteiro. A Cáritas Portuguesa esteve envolvida na campanha “Make Aid Work”, que apelava aos governos dos oito países – Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos – com acento na Cimeira para não esquecerem a sua promessa de destinar 0,51% do Produto Nacional Bruto (PNB) à ajuda de desenvolvimento, até 2010, e 0,7% até 2015. A campanha apelava também a uma ajuda financeira responsável para não gerar outra crise de endividamento, de forma a que os países pobres não fossem sujeitos a condições inaceitáveis para os países em desenvolvimento e seus povos. A intervenção dos próprios países pobres nas decisões sobre o modo como a ajuda seria utilizada era ouro dos pontos da “ Make Aid Work” que pedia igualmente o combate à corrupção, agindo contra as empresas multinacionais envolvidas em corrupção e ratificando a Convenção da ONU. A posição foi assumida e marcada nos meios de comunicação social, e mais do que uma visão da Cáritas, “foi uma tomada de posição da Igreja, e das suas organizações”, sublinha Isabel Monteiro. Tanto a sociedade civil como também a Igreja estão atentas e não se demitem de analisar a realidade, reiterando a “viabilidade de se construir outro mundo e uma globalização mais solidária”.

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