Aposta forte das Misericórdias

A partir de 1 de Julho, as Misericórdias portuguesas passarão a deter 72 por cento das camas da rede nacional de cuidados continuados A partir de 1 de Julho, as Misericórdias portuguesas passarão a deter 72 por cento das camas da rede nacional de cuidados continuados, anunciou ontem, em Braga, a coordenadora da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados, Inês Guerreiro. A responsável, que falava num dos painéis do VIII Congresso Nacional das Misericórdias, que encerra hoje, na Universidade do Minho salientou a importância daquelas organizações sociais na concretização da rede pelo país. À margem do congresso, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, disse ao Diário do Minho que o alargamento da rede nesta segunda fase que se avizinha, significará que as Misericórdias passarão a oferecer «mais de 900 camas» e que se somarão às cerca de 800 que, actualmente, aquelas instituições têm a funcionar na rede. Até este alargamento, as Misericórdias significam, hoje, 69 por cento do total das camas que a rede nacional de cuidados continuados possui. No painel que discutiu o papel das Misericórdias no campo dos cuidados continuados, Inês Guerreiro salientou que, desde início, que o diálogo entre o Governo e os parceiros sociais – de onde se destacam em larga escala as Misericórdias, mas que também inclui IPSS e agentes privados – tem sido franco. «O jogo é limpo», garantiu a coordenadora da rede, acrescentando que a mesma inclui todos os níveis do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e interministerial (incluindo as tutelas da Saúde e da Segurança Social) mas, que, por esse facto, «resulta complexa». Inês Guerreiro indicou, contudo, que tal complexidade não é sinónimo de conflitualidade, mas antes indutora de dinamismo e de uma negação constante à inércia. Por outro lado, frisou a responsável, a implementação da rede tem de ser feita «por patamares e obedecendo a uma avaliação permanente». Projecto é do país e não deste Governo A coordenadora da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados sublinhou aos mais de 500 congressistas que, desde quinta-feira, estão reunidos em Braga, o projecto de criação e implementação da rede de cuidados continuados «não é um projecto deste Governo, mas antes um projecto do país». Inês Guerreiro indicou a este respeito que foi nomeada para o cargo que ocupa por três anos, mas que o projecto está planeado para ser executado por dez anos. Aos muitos dirigentes das Misericórdias portuguesas que a ouviam, Inês Guerreiro sublinhou o facto da rede de cuidados continuados estar pensada «para dar resposta às necessidades da população». «Não foi formada para servir os hospitais e receber deles os doentes que querem dispensar», frisou a responsável. Apostada em fazer da rede um instrumento que faça um plano individual de cuidados, a coordenadora indicou que tal só é possível se a rede começar onde uma determinada pessoa é referenciada (centro de saúde ou hospital), passando pelas unidades de cuidados continuados até ao regresso a sua casa. «É este o modelo que queremos», salientou, acrescentando que tal obriga a «uma mudança no SNS». Por último, Inês Guerreiro lançou um aviso às Misericórdias que «esta rede não é compatível com permissividade nem negligência», mas que «a todos responsabiliza». Ainda antes da coordenadora ter tomado a palavra, Caldas de Almeida, representante da UMP no domínio da rede de cuidados continuados, tinha sublinhado que as Misericórdias têm, na sua relação com o Estado e em comparação com todos os outros parceiros sociais, «um potencial de credibilidade enorme» e que resulta da sua acção contínua ao longo de 500 anos. Por outro lado, o potencial é tanto maior para as Misericórdias, porque se tratam de instituições de implementação local (proximidade com as comunidades) mas de cobertura nacional (numa escala que mais nenhuma organização dispõe).

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