Darfur, o drama continua

No Dia Mundial do Refugiado, um olhar sobre a pior crise humana da actualidade A Missãopress, Associação de Imprensa Missionária, lançou neste mês de Junho uma campanha de informação e sensibilização em favor da população do Darfur, região sudanesa onde se assiste à pior crise humana da actualidade. António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, concedeu uma entrevista às publicações missionárias, que a publicarão, também, em conjunto, o mesmo acontecendo com a Agência ECCLESIA e o Programa ECCLESIA. Para este responsável, a situação no Darfur continua extremamente difícil, apesar dos acordos de paz de Abuja [assinados a 5 de Maio de 2006], mas que apenas foram subscritos por um número limitado de actores. “Continua a existir uma situação de insegurança generalizada, com violações dramáticas dos direitos humanos para a população em geral, e finalmente um grande esforço de apoio humanitário a essa mesma população”, alerta. António Guterres do ponto da protecção das pessoas e da insegurança, “estamos perante um fracasso generalizado e por isso o risco para a segurança destas comunidades, a violação dos direitos das pessoas, casos dramáticos de morte, violação, continuam a proliferar”. Nesse sentido, refere-se à sua passagem recente pela região e assinala que “o que marca mais são os testemunhos que nós recebemos daquela população, do medo, da insegurança”. “Falar com mulheres que têm que ir apanhar lenha porque têm que cozinhar para as suas famílias, que ao fazê-lo estão sujeitas a serem raptadas, violadas; falar com jovens que têm visto amigos seus serem mortos, ou serem mobilizados à força para diversas milícias”, aponta. Ajuda Humanitária o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados lembra os milhares de trabalhadores humanitários das mais diversas associações, “nomeadamente muitas organizações ligadas à Igreja, há milhares de trabalhadores humanitários, os nossos próprios estão aí envolvidos, com enormes riscos”. “4 milhões de pessoas são alimentadas por dinheiro internacional, serviços de prestações de saúde estão espalhados por todo o território, em condições de extrema dificuldade mas com grande abnegação, há muitas escolas abertas no Darfur, em muitos destes campos de pessoas deslocadas as crianças têm, apesar de tudo, por vezes mais oportunidades do que tinham nas suas aldeias originárias, e isso revela de facto, um extraordinário êxito da acção humanitária da comunidade internacional. Infelizmente, esse êxito deve ser posto em paralelo com o fracasso da capacidade de dar às populações segurança e protecção”, relata. Apesar de, durante séculos, árabes e africanos, ou nómadas e sedentários, terem vivido em harmonia nesta região sudanesa, “quando a água diminui, e porventura aqui as alterações climáticas virão a ser um factor agravante deste problema, há uma tendência para o conflito”. António Guterres acredita, contudo, que uma vez estabelecida a paz “será possível reencontrar condições e um grande esforço terá que ser feito, quer do ponto de vista do diálogo social, quer eventualmente do ponto de vista económico”. Papel das religiões Sobre a intervenção da Igreja Católica, das outras Igrejas e doutras religiões neste tipo de situações, o antigo primeiro-ministro português entende que “é essencial”. “Nós temos várias organizações ligadas à Igreja que são nossas parceiras no terreno de forma extremamente generosa, dedicada e depois vivemos num mundo em que a intolerância se tem afirmado, em que o confronto entre culturas, civilizações se arrisca a desenvolver-se e creio que a postura do diálogo, e tolerância da Igreja é absolutamente essencial neste domínio”, indica. Para o futuro, o homem da ONU para os refugiados defende a necessidade de “reconhecer a enorme complexidade dos problemas mas achar que as coisas são para nós um desafio. E são um apelo, de alguma forma um sinal que recebemos de Deus para que nos empenhemos”. “Se os problemas não existissem, porventura o empenhamento não seria necessário. Os talentos não fariam falta. Como os problemas são muitos nós não temos o direito de ficar com os talentos enterrados. Temos mesmo que os pôr a render”, afirma, numa alusão a uma parábola dos Evangelhos. António Guterres lamenta que África passe “em grande medida à margem da globalização, do progresso social, económico, tecnológico” e diz que “a Europa tem aí uma responsabilidade evidente, pela história e pela solidariedade que deve existir em qualquer caso”. Entrevista na íntegra Violações dos direitos humanos no Darfur

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top