“Cinco grãos de amor” nos 40 anos do Grupo de Teatro São João Bosco

O Grupo de Teatro São João Bosco do Seminário Conciliar de Braga vai apresentar este ano ao público a peça de teatro “Cinco grãos de amor” de Emílio Bonomi, com adaptação, realização e encenação própria pelos elementos do grupo. A peça estará em palco entre os dias 30 de Maio e 1 de Junho, no Auditório São Frutuoso, pelas 21h30. Esta iniciativa pretende também celebrar os 40 anos de existência deste grupo de teatro que é composto por seminaristas que se dedicam desde 1967 à arte da representação. História do Grupo Para quem não conhece o Seminário poderá parecer estranho que numa instituição como esta haja um grupo de teatro. Para além de outras equipas existentes no Seminário, que procuram organizar e dinamizar a vida diária dos seminaristas, existe também uma equipa de teatro amador que representa com grande profissionalismo. Fazendo um pouco da sua história, este grupo de teatro surgiu por iniciativa de alguns seminaristas nos finais da década de 60. A princípio, foi somente uma brincadeira de jovens seminaristas que viam no teatro uma forma de sair do controlo, do rigorismo e da disciplina existente no Seminário. Rapidamente, segundo rezam as memórias dos mais antigos, se tornou um espaço de convívio, de entreajuda, de alguns excessos proibidos, de crítica sadia a alguns comportamentos, para além do gosto em representar que movia e ainda move cada um. Com o passar do tempo, o grupo foi amadurecendo, novos directores foram surgindo, novos actores se foram integrando, diferentes peças foram apresentadas (“A torre de marfim…”). Mas o ideal e a finalidade do grupo permaneceram os mesmos de sempre, ainda que em contextos e com mentalidades diferentes. Para que se possa entender melhor aquilo que foi o grupo e o que ele é hoje, deixamos dois testemunhos: o do padre Manuel Azevedo, que esteve nas suas origens, e o do diácono José António, que foi, mais recentemente, o presidente do grupo (ver caixa, nesta página). São certamente testemunhos experiências diferentes mas que se entrelaçam numa visão comum: o gosto pelo teatro, pela representação dramatúrgica e o espaço de solidariedade e de convívio existentes no grupo. A peça “Cinco grãos de amor”…. Foi a obra escolhida para ser representada e apresentada ao público pelo Grupo de Teatro São João Bosco. Este ano a apresentação ganha um cariz ainda mais especial porque comemoramos os 40 anos de existência do grupo. Quisemos, por isso, escolher um drama que, sem dramatizar, dissesse algo aos dias de hoje. Não querendo descortinar já a beleza e a dramaticidade do enredo, mas somente contextualizar um pouco a mensagem da peça, podemos dizer que a obra de Emílio Bonomi coloca em realce o tema do racismo na sociedade americana dos anos 70. O enredo é construído a partir do mítico movimento racista Ku-Klux-Klan, conhecido pela sua aversão e ódio aos homens de raça negra. É um grupo que alienava os indivíduos pela força e era possuidor de uma influência social que incitava a uma luta de extermínio de todos os negros pelos brancos. O contexto da peça situa-se numa família profundamente religiosa, burguesa e socialmente bem posicionada, mas com realce para as diferenças temperamentais, ideológicas e comportamentais dos seus membros. O drama da situação está bem patente em duas personagens facilmente identificáveis pelo público, as quais marcam o jogo de tensão e a dramaticidade de toda a peça. Esta procura colocar também em evidência duas problemáticas profundamente actuais que é a relação entre a comunicação social e a família, bem como a perversão de determinados valores pelos mass media. Trata-se, portanto, de uma obra teatral com pertinência actual, apontando como solução para o problema do racismo o amor como doação de si ao outro. Um amor gratuito capaz de respeitar as diferenças e de as tornar semelhantes. Na verdade, os “Cinco grãos de amor” só produzirão efeito se cada um na sua existência concreta se abrir ao rosto do outro tal como ele se nos manifesta em toda a sua frescura e verdade e se o acolhermos como tal. É esta a mensagem que os actores vão procurar transmitir, representando com arte, amor e entusiasmo. Grupo de Teatro São João Bosco Dois testemunhos Há quarenta anos atrás, já os alunos do Seminário de Braga se agrupavam em secções de variadas actividades, para completarem a sua formação e se iniciarem na prática pastoral. Para isso lá estava o Escutismo, a Conferência Vicentina, o Cenáculo, a Academia Missionária e outras. Mas precisamente há 40 anos, nasceu no Seminário Conciliar a Equipa de Teatro. Pretendiam os seus iniciadores criar um espaço para o conhecimento e arquivo das várias formas de expressão ligadas ao teatro, e pesquisar formas activas claras para a evangelização e a liturgia. O campo era vasto e nele cabia a música, a poesia, a leitura, a comédia, o teatro em geral. Passadas quatro décadas, é gratificante saber que a tarefa iniciada com humildade continua a motivar e empenhar cada vez mais aqueles que se preparam para construir o Reino de Deus com alegria e arte no mundo actual. Cónego Manuel Azevedo A minha passagem pelo Grupo de Teatro São João Bosco deixou-me recordações, experiências, vivências e ensinamentos que jamais esquecerei. Antes de mais, a magia que é o próprio teatro. Também, o companheirismo e a solidariedade que este grupo sempre viveu e conheceu. Aliás, atrevo-me a dizer que será esse certamente um dos suportes fundamentais que o tem mantido de pé ao longo destes 40 anos de vida. Podemos, ainda, olhar a vertente educativa nos seus mais variados aspectos que a representação teatral desenvolve e aperfeiçoa. Não me quero alongar neste breve testemunho, correndo o risco de reviver cada pisada de um caminho que se fez (e faz!) com muito esforço, empenho e dedicação. Aquelas tardes/noites de domingo varrendo o cenário… que sabor! Tantas representações (ao longo de seis anos) multiplicadas por um sem número de ensaios, de reuniões, de peças lidas… Inabarcável, tudo quanto guardo do Grupo de Teatro São João Bosco do Seminário Conciliar. Para mim foi uma honra enorme poder dirigi-lo ao longo de alguns anos. Foi uma honra pisar aquele palco cheio de memórias passadas mas que nos ensinam tanta coisa. Nele pude perceber e entender a grande verdade que diz que as árvores morrem de pé! Ao Grupo de Teatro, às pessoas que o dirigem e que o fazem, à casa que o acolhe os meus sinceros parabéns por estes 40 anos de existência. Que eles se multipliquem como as areias das praias do mar, ou como as estrelas do céu! Bem haja a todos. José António Carneiro

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