Padre por causa de João Paulo II

A primeira viagem de João Paulo II a Portugal, em 1982, deixou frutos sacerdotais. Talvez mais do que se possam vir a saber algum dia, mas um jovem, na altura com 21 anos, foi especialmente tocado pelo contacto que manteve com o Papa. O jovem Carlos Carneiro começava a pensar na hipótese de se tornar sacerdote jesuíta. “Era uma jovem normal, estudava, tinha namorada, mantinha uma ligação à pastoral da juventude na diocese de Braga”, de onde é original e participava na vida paroquial, recorda. Na sua vivência de oração e reflexão surgiam já algumas inquietações e interpelações, com um momento de viragem em 1982. A leitura sobre a vida de Santo Inácio de Loyola “porque me interpelou profundamente” e mais significativamente “quando tive o privilégio inesperado de me encontrar com o Papa João Paulo II”, recorda. Quando João Paulo II visitou a Diocese de Braga, manteve um encontro no Santuário do Sameiro. Carlos Carneiro estava ligado à Pastoral da Juventude e um dos padres responsáveis “tinha-me entregue um cartão de livre acesso a acompanhar as viagens do Papa em Portugal”. Na altura, reconhece não ter percebido a importância do «livre acesso». Participou na vigília preparatória da visita do Papa, juntamente com outros jovens. Nesta altura foi-lhe dada a oportunidade de participar na celebração presidida por João Paulo II. “A dado momento da celebração vejo-me aos pés do Papa”. Foi um momento “mágico e muito forte espiritualmente”. Carlos Carneiro teve oportunidade de trocar algumas palavras com João Paulo II. Quando este lhe perguntou o que queria ser “respondi-lhe, num impulso, que queria ser padre jesuíta”. Com um olhar muito vivo “olhou para mim e deu-me um beijo”, recorda. Naquele olhar e naquele beijo “percebi um apoio imenso e um sinal de Deus que me marcava o futuro”. Na verdade o Pe. Carlos Carneiro já tinha participado num retiro, já surgiam interpelações, “mas não tinha tomado decisão”, relembra. Estava entusiasmado com essa possibilidade, “mas cheio de medo também”. Perante a pergunta do Papa, “a minha resposta pronta também me espantou. Foi uma convicção muito profunda que eu próprio teria dificuldade em verbalizar”. Nestes 25 anos de sacerdócio “fui confirmando a minha vocação”. O sacerdote jesuíta relembra ainda a oportunidade que teve de se encontrar, noutras alturas, com João Paulo II. O seu curso de teologia foi realizado em Roma e dois meses antes do Papa Wojtyla morrer, participou numa celebração eucarística privada, “tomámos também o pequeno almoço juntos”, relembra. Num dos encontro que manteve com o Papa, o Pe. Carlos Carneiro mostrou-lhe o quanto se sentia privilegiado e tocado pelo contacto que mantiveram. “Falei-lhe da importância que teve na minha vida e recordo a atitude de humildade e simplicidade refutando qualquer responsabilidade na minha vocação e dizendo que era antes obra de Deus”, recorda. Uma imagem lhe fica na memória “com especial carinho” é a atitude de beijar o chão de cada país que visitava. Actualmente em Coimbra, como mestre de noviços da Companhia de Jesus em Portugal, o sacerdote jesuíta assegura que João Paulo II deixou uma “marca que tocou a humanidade”. Sem drama e “com as minhas orações, acompanhei os momentos finais da vida de João Paulo II”, esperando também “com confiança, o futuro”.

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