O 13 de Maio na ilha de S. Miguel

Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres recebe açorianos dos quatro cantos do mundo. Dois santuários portugueses recebem este fim de semana um afluxo anormal de peregrinos. Em Fátima vive-se o início das celebrações do 90º aniversário das aparições com milhares de peregrinos a caminho daquele santuário mariano. Na ilha de S. Miguel, Açores, a Igreja do Senhor Santo Cristo recebe também, neste fim de semana, milhares de peregrinos “vindos dos quatro cantos do mundo” – disse à Agência ECCLESIA Mons. Augusto Cabral, sacerdote açoriano e director do secretariado Nacional da Educação Cristã. No Convento da Caloura, em Água de Pau, começa a história do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em S. Miguel. Reza a tradição que foi neste lugar que se erigiu o primeiro Convento de Religiosas nesta Ilha, convento cuja fundação se deveu, principalmente, à piedade das filhas de Jorge da Mota, de Vila Franca do Campo. Uma tradição longínqua que os açorianos acolheram e “vivem intensamente” – realçou cón. José Garcia, pároco de S. José, na cidade de Ponta Delgada. Numa ilha de vulcões em actividade constante e de sismos frequentes, a devoção era o único refúgio do povo, através do culto do Divino Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. A devoção que Teresa da Anunciada, venerável religiosa do convento de Nossa Senhora da Esperança, tão intensamente sentiu por Cristo, marcou profundamente a alma do povo, de tal modo que o culto ao Senhor, através da procissão com a imagem, se expandiu e fortaleceu ao longo dos séculos. O núcleo central da festa será no próximo Domingo (13 de Maio) mas as celebrações já começaram. De 8 a 17 de Maio, milhares de açorianos que trabalham noutras paragens “vêm à Ilha de S. Miguel agradecer ao Senhor Santo Cristo dos Milagres as graças recebidas” – disse à Agência ECCLESIA Mons. Agostinho Tavares, reitor daquele santuário. A festa deste ano será presidida por D. Georges Coleman, bispo de Fall River (EUA). “A maior procissão, a mais grandiosa e a de maior devoção que se realiza em terras portuguesas” – dizem os açorianos. No coração de cada açoriano, disperso pelo mundo, há um altar de culto eterno ao Senhor Santo Cristo, onde as suas preces mantêm permanentemente acesas místicas velas de imperecível devoção e saudade. Próximo do santuário do Senhor Santo Cristo está a Igreja de S. José. “Esta zona está iluminada como é próprio de uma festa grande” – frisa o Cón. José Garcia. Para além dos açorianos da diáspora, este sacerdote nota também a presença de “muita gente das outras ilhas”. Uma festa imponente onde “abunda a religiosidade popular” mas “está também muito secularizada” – adianta o pároco de S. José. E completa: “sinais da modernidade”. Semanas antes da procissão, o mosteiro da Esperança e a praça 5 de Outubro são preparados e enfeitados festivamente com milhares de lâmpadas multicores, mastros e bandeiras, flores de todas as espécies e cores que conferem ao recinto um deslumbrante ar de festa. As festas duram vários dias. Sucedem-se os serviços religiosos e os concertos. Na tarde de Sábado, há pessoas que andam à volta da praça de joelhos sobre as pedras do pavimento ou, então, carregadas de círios de cera, num agradecimento pela graça recebida do Senhor numa hora de aflição e sofrimento. Cinco horas nas ruas de Ponta Delgada A grande procissão recolhe, já quase noite, após cinco horas de circulação pelas principais ruas de Ponta Delgada. O corpo principal do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres é constituído pelas seguintes jóias: o Resplendor, a Coroa, o Relicário, o Ceptro e as Cordas. Frutos dos mistérios da Fé, sinais da gratidão dos mortais pelos milagres que os ajudam a caminhar pela vida, o Ex-Libris do Tesouro, o resplendor é a peça mais rica do espólio. Fotografado e documentado por especialistas internacionais em arte, foi recentemente considerado, num congresso em Valladolid, Espanha, a peça mais valiosa do seu género em toda a Península Ibérica. O resplendor, em platina cromada de ouro, pesa 4,850 gramas e está incrustado de 6.842 pedras preciosas de todas as qualidades: topázios, rubis, ametistas, safiras, etc. Além do valor artístico, esta jóia está carregada de elementos simbólicos ligados à teologia. O primeiro é a da Santíssima Trindade, representada por um triângulo no centro que contém três caracteres com o seguinte significado: “Sou o que Sou” e também “Pai, Filho e Espírito Santo”. Deste triângulo irradiam os resplendores para as extremidades da peça. O segundo elemento é a Redenção de Cristo, representada pelo cordeiro sobre a cruz e pelo livro dos Sete Selos do Apocalipse. Um terceiro é a Eucaristia, simbolizada por uma ave, o pelicano, pelo cálice e pelo cibório. O último elemento simbólico do resplendor é a Paixão de Cristo passando pela coroa representada em pormenor: desde a túnica ao galo da Paixão, passando pela coroa de espinhos integralmente feita de esmeraldas. Se o Resplendor é a jóia mais rica do Tesouro, a coroa é a sua peça mais delicada. Em ouro, pesando apenas 800 gramas, possui 1.082 pedras preciosas, todas elas trabalhadas com minúcia, onde os próprios espinhos são pequeníssimas pedras que diminuem de tamanho nas extremidades. O relicário é, por outro lado, a peça mais enigmática do Tesouro. É a única que está permanentemente colocada no peito da imagem e serve para guardar o Santo Lenho, que se crê ser uma farpa da verdadeira cruz em que Jesus foi crucificado. O Ceptro, a quarta peça do Tesouro, é constituída por 2.000 pérolas que formam uma maçaroca de cana, 993 pedras preciosas ao longo do tronco e no conjunto de brilhantes com renda de ouro na base, onde está colocada a Cruz de Cristo. Finalmente, as Cordas, com 5,20 metros de comprimento, constituem a quinta peça do corpo principal do Tesouro. São duas voltas de pérolas e pedras preciosas enroladas em fio de ouro. A festa predilecta dos açorianos que congrega pessoas de várias paragens. Mons. Augusto Cabral finaliza: “para uns é a devoção para outros é o lado mais lúdico”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top