Globalização económica «exige regulação social»

Falta regulação em termos globais capaz de acompanhar a velocidade do actual movimento da globalização económica, já que «os estados e as organizações internacionais são frágeis para enfrentar os novos desafios colocados pelos potentados em que se tornaram as grandes empresas transnacionais». A ideia foi defendida ontem, em Braga, pela economista e presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz, Manuela Silva, que apontou a globalização dos movimentos sociais e sindicais e a economia social como “luzes” para uma globalização mais solidária. Manuela Silva falava na conferência “Desenvolvimento Global e Solidário”, no âmbito da iniciativa “Pontos de Encontro – Por um Desenvolvimento Global e Solidário”, promovida pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Católica, em parceria com a Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP) e o Instituto da Juventude, que decorre em Braga até ao próximo sábado. «Sentimos a falta de uma regulação em termos globais», afirmou a economista, considerando que «mesmo no seio da Organização das Nações Unidas, as instituições são frágeis para exigir o cumprimento dos pactos», tal como aconteceu com os “Objectivos do Milénio”, assinados em 2000, no qual os países se propunham diminuir para metade a pobreza no mundo até 2015. No momento em que se está a meio deste período, «os resultados não são satisfatórios», já que o que se pedia era apenas que «os países ricos canalizassem 0,7 por cento do seu produto para este fim», considerou a presidente da CNJP, acrescentado que o Papa Bento XVI já apelou aos países do G8 por considerar que «presentemente existem recursos suficientes para acabar com a pobreza », pelo que consenti-la «é um escândalo e um atentado aos direitos humanos». Liberalização vertiginosa A economista começou por referir que «a globalização é algo que hoje todos experimentamos como o ar que respiramos» – seja nos produtos, na informação ou no acesso ao trabalho, entre outros – sendo o resultado de «um processo histórico iniciado nos Descobrimentos e aprofundado pela industrialização e que é hoje irreversível». Acontece que «nas últimas duas décadas este fenómeno teve uma aceleração extraordinária », seja devido à inovação tecnológica, seja pelas tecnologias da comunicação, bem como por razões de ordem económica, em que as empresas transnacionais «agem a nível mundial, sem fronteiras para recrutar capitais e à procura das melhores vantagens comparativas, com um gigantesco poder económico, que se sobrepõe ao de muitos estados», realçou a responsável da CNJP. Acresce, segundo Manuela Silva, que «95 por cento das transacções das bolsas têm por base apenas capitais financeiros, o que introduz uma vulnerabilidade extrema num mercado sem qualquer regulação», enquanto as instituições internacionais, como o Banco Mundial, o FMI ou a OMC, «apenas visam a liberalização dos mercados e a competição mundial, protegendo os actores mais fortes». Neste momento, está-se «na transição de paradigma para uma economia baseada no conhecimento, mas este pode estar “contaminado à nascença” com um perigoso “vírus”, pois o conhecimento está, por sua vez, muito baseado na economia». Manuela Silva defendeu também que a entrada de novos actores na globalização – a Índia e a China têm um terço da população mundial – «trará certamente uma degradação das relações sociais e laborais e a degradação ambiental», que a par da concentração da riqueza poderá «pôr em risco a democracia e a paz». Neste quadro global “negro”, a presidente da CNJP apontou, contudo, algumas pistas para uma globalização mais solidária, referindo a opinião pública crescente a favor da introdução de regras contra a fraude e a corrupção a nível global, pela transparência das transacções e pelo desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade que «não pode ser só ecológica, mas tem de ser também social, com regras mínimas de trabalho digno e de coesão social», frisou. Como exemplos de movimentos neste sentido, Manuela Silva apontou o Fórum Social Mundial; a iniciativa de constituição da confederação sindical mundial, as associações de Comércio Justo e a economia social, que «é cada vez mais necessária para apoiar a exclusão social gerada pela globalização». Antes da conferência da “economista social”, o responsável distrital da CNJP, Bernardino Silva, fez uma apresentação multimédia, com fotografias recolhidas em países como o Brasil, São Tomé e Príncipe, Quénia, Paquistão e Índia, que mostraram «o muito que ainda falta fazer» para reduzir ou erradicar a pobreza, como prometiam os ditos “Objectivos do Milénio.

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