Arcebispo de Braga quer Igreja envolvida na luta pela justiça social

D. Jorge Ortiga denuncia mal-estar generalizado na sociedade O Arcebispo de Braga considera que existe um mal-estar generalizado na sociedade portuguesa, ligado às mutações e evoluções da vida económica e social dos últimos anos. Perante um cenário sombrio, D. Jorge Ortiga lança um «recado» à Igreja para que «dê um contributo mais interventivo de forma a que a sociedade possa ser mais justa e fraterna». Esta mensagem resume o folheto “Recuperar a justiça, ousar a solidariedade”, que ontem foi apresentado à comunicação social e que já está a ser distribuído pela Arquidiocese. O prelado aproveitou o encontro com a imprensa que habitualmente antecede o Dia Mundial das Comunicações Sociais para também apresentar o livro com as actas da Semana Social, que decorreu de 9 a 12 de Março de 2006, em Braga. «A sociedade portuguesa está hoje ferida por problemas sociais que a afectam em profundidade. A Igreja portuguesa não pode ficar indiferente às situações de mal-estar social », afirma, sublinhando que nota esse mal-estar nas visitas pastorais que faz pela Arquidiocese, com destaque para os problemas associados ao desemprego. Delinquência juvenil, manifestações contra a reforma da Segurança Social, descontentamento dos estudantes e falta de perspectivas para os desempregados são algumas das questões problemáticas identificadas num capítulo a que chama «uma análise despertadora das consciências». D. Jorge Ortiga salienta que «os problemas do mercado global, a questão da produtividade, o progresso tecnológico afectam a vida dos cidadãos com as situações de precariedade ligadas às deslocalizações e à persistência do desemprego, que conduz a uma perda da identidade da pessoa desempregada, à incerteza face ao futuro, a um sentimento de inutilidade e rejeição». «O desemprego não poupa ninguém. Para os jovens, licenciados ou não, é uma barreira que proíbe desenhar o futuro. A emigração tornou-se hoje, para muitos deles, uma perspectiva a encarar », acrescenta. Perente um cenário em que há «desigualdades gritantes» e em que «cresce o número de excluídos», o Prelado apela à descoberta da Doutrina Social da Igreja — que classifica como «um tesouro» que ainda está por descobrir — e à mobilização. Em seu entender, um dos aspectos da sua missão de Bispo é «ensinar» e a interpretação que faz desta tarefa passa por apresentar uma «proposta» para fazer face aos problemas existentes na sociedade. D. Jorge Ortiga explicou que um dos objectivos do folheto é dar a conhecer a Doutrina Social da Igreja, uma «doutrina que é o suporte para uma sociedade mais justa». «É urgente recuperar a justiça, uma vez que todos têm direito a uma vida digna», afirmou, apelando à solidariedade para que não haja pessoas a viver com o mínimo e outros a esbanjar recursos. Desemprego não pode ser esquecido O Arcebispo de Braga considera que o problema do desemprego «não pode ser esquecido ». Por isso, destaca a importância da publicação das actas da Semana Social, que foi subordinada ao tema “Uma sociedade criadora de emprego”. D. Jorge Ortiga salienta que o livro, que será posto à venda por 20 euros, não se destina apenas a fazer memória do que se passou. Pelo contrário, argumenta, a obra «apresenta um manancial de ideias, de sugestões » e apela a «um compromisso novo para uma sociedade criadora de emprego, que faça a «tragédia do desemprego» passar à história. Por outro lado, refere que as comunicações destacam que «a responsabilidade toca a cada um, para que não falte o indispensável a uma vida digna». Este responsável acredita que as faculdades de economia e gestão «vão devorar» a publicação. Estas ideias são partilhadas pela presidente nacional da Comissão Justiça e Paz, Manuela Silva, que sublinha que, um ano depois, a questão do (des)emprego continua com a mesma importância. Daí que esta estrutura vá promover, a 25 e 26 de Maio, em Lisboa, a conferência “Por um desenvolvimento global e solidário: um compromisso de cidadania”, que contará com a presença de um representante da Unesco. Esta dirigente está convencida de que «a reflexão irá dar lugar a alguma forma de empenhamento colectivo» para combater a pobreza. O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz, Bernardino Silva, refere que a publicação de 375 páginas apresenta textos que foram escritos de propósito para a obra ou versões enriquecidas das conferências proferidas na Semana Social, uma parte com os artigos sobre o evento publicados na imprensa e fotografias. A apresentação oficial deverá ser feita em Lisboa.

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