Intenção Geral de Bento XVI para o mês de Maio 1. A exemplo de Maria. Sobre o modo como a Virgem de Nazaré se relacionava com a Palavra de Deus revelada nas Escrituras do seu povo, os Evangelhos nada nos dizem. Podemos, porém, legitimamente supor que, como qualquer judeu bem formado, escutaria com reverência e meditaria com naturalidade os textos proclamados na sinagoga, dos quais também se alimentaria a sua oração. Sabemos, no entanto, muito bem qual a sua atitude face aos sinais do Senhor na própria vida: acolhimento generoso – «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra» (Lucas 1, 38); e meditação cuidadosa e atenta: «Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as em seu coração» (Lucas 2, 19; cf. 2, 51). Para o cristão, estas atitudes da Virgem de Nazaré e Mãe de Deus são exemplo acabado de como ser discípulo, no seguimento da Senhora, a mais eminente de entre todos os discípulos do Senhor Jesus. E nem se pretenda ver aqui qualquer exagero devocional: aprender de Maria a viver como um discípulo de seu Filho é fazê-lo com o melhor dos mestres e é garantia de seguir por caminhos de fidelidade ao Evangelho. 2. Atentos aos sinais de Deus. Não nos é estranha a expressão «sinais dos tempos». Em alguns casos, tornou-se até rotineira e gasta, fazendo lembrar a advertência de Jesus, quando dizia aos seus ouvintes que, embora capazes de ler os «sinais» da natureza, eram incapazes de «ver» agindo no meio deles os sinais do Reino de Deus (cf. Mateus 16, 1-3; Lucas 12, 54-55). Por cansaço ou desilusão, porque desatentos a tudo o que não seja a sobrevivência quotidiana ou o afã de juntar coisas, sucesso, ter… podemos não andar longe do «hipócritas» de Jesus aos seus ouvintes, incapazes de colher, na própria vida, os «sinais do Reino». Contudo, Aquele a quem, nos momentos de entusiasmo, chamamos Senhor e Mestre continua presente. O problema é o desatino que, tantas vezes, envolve o nosso dia-a-dia. Há demasiados sinais do poder das trevas agindo livremente no nosso mundo? – logo sobrevém o desânimo que abandona o terreno antes da batalha; há demasiado mal, demasiado sofrimento, demasiada injustiça à solta no mundo? – logo desponta a sensação de impotência que se entrega ao «não vale a pena»… A «mão do Senhor», porém, não perdeu o seu poder e o «vigor do seu braço» mantém-se como nos dias de outrora. Os sinais da sua presença estão aí, curando enfermidades, aliviando dores, matando solidões, fazendo germinar o bem onde parecia só despontar o joio, iluminando espaços esconsos já entregues às trevas do mal… Surgem em qualquer lado, este sinais, nas ruas escuras e tristes abandonadas à noite e à solidão, nas camas dos hospitais, nas generosidades que não desistem de humanizar o mundo, na assembleia de cristãos que se reúne para celebrar o nome do Senhor, no canto e na oração dos crentes, na palavra dos profetas, no sangue dos mártires… 3. Guiados pela Palavra. No ruído do mundo e na lassidão provocada pelo poder das trevas, os sinais do Reino correm sempre o risco de passar despercebidos. A menos que nos deixemos guiar pela Palavra de Deus. Aqui reside a força e também a fraqueza dos cristãos. Têm uma Palavra que não passa, à qual podem recorrer sempre para entender o quotidiano e alimentar a sua fome de Deus – e, tantas vezes, esquecem esta Palavra, substituindo-a por palavras efémeras, ruidosas mas com muito pouco para dizer. Ignorantes da Palavra, abandonam o Caminho, esquecem a Verdade, ofendem a Vida. A sua força torna-se fraqueza. Felizmente, muitos conhecem ou vão descobrindo o caminho da conversão, caminho a percorrer cada dia e a retomar a cada passada mal andada, sustentados e guiados pela Palavra de Deus. E assim guiados, entendem cada vez mais facilmente os sinais do Senhor na própria vida e na vida dos outros e descobrem o verdadeiro significado de «estar no mundo sem ser do mundo» (cf. João 17, 11-16); e, a exemplo de Maria Santíssima, acolhem com generosidade os pedidos do Senhor, guardando no coração o que não entendem, pois sabem, sem sombra de dúvida, que há um tempo para tudo, um tempo para guardar, calar e meditar e um tempo para entender, à luz do Espírito Santo. Elias Couto