D. Manuel Pelino, Bispo-Emérito de Santarém
Na altura aguda da pandemia em que as igrejas foram fechadas, um teólogo checo bem conhecido entre nós, Tomás Halik, publicou uma reflexão oportuna sobre o “sinal das Igrejas vazias”. Realmente, o esvaziamento das Igrejas já se vinha processando há vários anos, sobretudo da parte dos adultos ativos, dos jovens e das crianças. Naturalmente, o abandono dos adultos, sobretudo dos pais, reflete-se na ausência dos mais novos. Porque abandonam? Halik, que é também sociólogo, vê no facto um “sinal do cristianismo vazio”. Ou seja, a fé que transmitimos, permaneceu nas expressões exteriores mas não entrou no coração nem na vida. Realmente, se analisarmos a vida dos crentes dessas idades que abandonaram, verificamos que a fé cristã não conta na forma de pensar e de agir. Que fazer? Deixar correr? Ou, como recomenda o Papa Francisco, rever a nossa pastoral de forma a recrear as nossas comunidades?
Na Exortação “Evangelii Gaudium”, e em muitas outras intervenções, o Papa alerta-nos que não podemos continuar no “fez-se sempre assim”. A cristandade acabou, a situação é diferente, precisamos de mudar, de sair do tradicionalismo, de criar novos processos, numa perspetiva evangelizadora. Naturalmente não podemos pôr de lado a centralidade da eucaristia. Mas precisamos de cuidar do antes e depois da celebração. Realmente, a “comunidade modelo”, descrita no Livro dos Atos dos Apóstolos, refere quatro assiduidades, ou quatro colunas em que assentam as comunidades: ensino dos apóstolos, eucaristia, união fraterna e orações. A primeira assiduidade (escuta meditada da Sagrada Escritura) precisa de mais cuidado e espaço. Renovámos a catequese de infância e adolescência. Mas a formação de adultos não encontrou a devida importância. Não poderiam valorizar-se muito mais os variados encontros com adultos e criar outros adequados à sua realidade? A prioridade da formação bíblica continua “uma cadeira por fazer”. Do mesmo modo, o lugar da oração precisa de maior cuidado. Fazem-se muitas orações, mas o sentido de presença e diálogo com Deus parece ténue. As orações dão a imagem de fórmulas recitadas com os lábios, mas onde o coração e a vida não entram. Precisamos de pedir constantemente, como os apóstolos, “Senhor ensina-nos a rezar”, e esforçarmo-nos por progredir na oração do coração, contemplada, iluminadora da vida real. Também a união fraterna, a partilha de bens e a presença ativa na vida social, na construção da justiça e da paz no mundo, devem integrar a vida das comunidades.
E aquém temos para responder a tantas propostas? Também aqui precisamos de mudar o nosso estilo. É a prioridade que neste momento nos apresenta a Igreja. De facto, estamos habituados a contar com o clero bem preparado e suficiente. Mas o principal animador da ação da Igreja é o Espírito Santo que distribui os seus dons por todos os membros do povo de Deus. Por isso, a primeira proposta a pôr em prática é promover a sinodalidade, escutando, chamando, entregando responsabilidades e acompanhando. Os pastores habituaram-se a absorver e a orientar em estilo monárquico as comunidades. E os leigos sentem-se bem no papel de clientes passivos, pois já têm muito que fazer. A sinodalidade é um caminho para um novo estilo pastoral que precisamos de aprender e praticar.