Famílias devem saber gerir o dinheiro

As escolas deviam ter uma disciplina que ensinasse os alunos a poupar e a fazer um bom uso do dinheiro. A ideia foi defendidapor Abílio Vilaça, no âmbito da V Jornada Diocesana da Pastoral Familiar, subordinada ao tema “A família e a gestão financeira” e promovida pelo Departamento Arquidiocesano da Pastoral Familiar. A iniciativa, em que participaram dezenas de pessoas, decorreu no auditório do Colégio D. Diogo de Sousa, em Braga, e começou com um momento musical a cargo de elementos da Artave. Apresentando várias características da sociedade, numa visão «realista», o orador disse que «não basta ter políticas muito activas na defesa do consumidor. É também necessária uma nova educação » em termos de disciplina escolar. Abílio Vilaça defendeu também a necessidade de se «promover a poupança na família» e de «resistir à tentação do marketing colocado no apelo ao consumo». É preciso, em sua opinião, «saber resistir às marcas, promoções, publicidade e facilidades de consumo». Segundo o orador, um produto sem marca custa, em média, menos 30 ou 40 por cento. O conferencista fez também uma «recomendação activa», no sentido de as pessoas fazerem uma conta-poupança familiar. Os vários membros de uma família devem agregar-se e, mensalmente, quotizar-se para uma conta de poupança familiar, que funcione como um fundo para situações de crise/emergência». Se numa família com quatro elementos cada um depositar dez euros numa conta, ao fim de seis/sete anos essa conta tem 750 euros, exemplificou. Considerando a realidade actual, se não forem tomadas medidas, «há uma tendência para a desagregação da família», o que pode levar à desagregação da própria sociedade. A propósito do rendimento das famílias em Portugal desde há 15/20 anos e até à actualidade, Abílio Vilaça disse que ele «tem vindo a crescer», a despesa tem aumentado «mais que o rendimento» e a taxa de poupança «tem baixado de forma preocupante », situando-se actualmente em cerca de dez por cento, mas «com tendência para diminuir». Falando sobre a estrutura da despesa da família, o orador referiu que até à década de 1990 as despesas de alimentação eram as dominantes, seguindo-se a habitação e, depois, as despesas de educação e saúde. De acordo com um estudo feito recentemente, a habitação e decoração surgem como a primeira despesa. Os gastos com o transporte estão «a subir» e as despesas de alimentação «a perder importância relativa no orçamento familiar». Neste contexto, concluiu, vê-se que «as famílias trocaram despesas correntes», como a alimentação, «por património ». «Não há uma poupança em termos de dinheiro, mas uma transferência de poupança para um património/habitação/ activo». Aumento do endividamento Falando sobre os conflitos da família ao nível da gestão financeira, Abílio Vilaça referiu que «o nível de endividamento familiar tem vindo a aumentar». Existe um «recurso ao crédito por motivos cada vez menos relevantes». Se no passado o crédito era para a habitação e o automóvel, no presente ele é para electrodomésticos, viagens, férias e consumo corrente (por exemplo alimentação e vestuário). «Uma sociedade aberta ao mundo como a nossa, com o mercado global e o capital acessível através do telefone ou da internet, demonstra que a economia global e o capital não conhecem pátria nem família». Na abertura da Jornada, o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, disse que «há famílias que teriam o necessário e suficiente para uma vida digna», mas não o têm por falta de gestão e de discernimento e por não olhar para o lado e não ter consciência do que é prioritário. A propósito da deslocação que fez ao Estabelecimento Prisional e Regional de Braga, onde celebrou a Comunhão Pascal, D. Jorge Ortiga referiu que algumas pessoas se encontram presas por actos que cometeram na sequência de uma má gestão financeira. O Arcebispo de Braga lembrou também que o tema da iniciativa de ontem foi sugerido no Conselho Diocesano de Pastoral. No início das Jornadas, José Maria Sousa, do casal responsável pelo Departamento, disse que o sucesso da sociedade e da Igreja dependem do sucesso da família». «Não teremos uma sociedade bem sucedida com famílias sós, sem fé, ética moral e social e sem amor».

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