Um espaço de entrega de bens aos mais desfavorecidos, que caminha para uma «loja de afectos» Uma Loja Social abriu portas em Setúbal. Uma ideia que, em si não é original, mas que na prática está longe de ser regular. Este estabelecimento conta ainda com a mais valia da “dignidade”, conforme explica o padre Vítor Portugal, pároco de S. Sebastião, em Setúbal, “torna a acção social mais digna, pois não pedimos que as pessoas se desloquem à igreja para fazer «uma escolha entre o monte», mas está tudo mais organizado”. Esta acção de cariz social é da iniciativa do Centro Comunitário São Sebastião, uma valência do Centro Social e Paroquial da localidade, que tem como principal objectivo recolher o que sobra a outros para dar a quem não tem. Roupas, utensílios domésticos, sapatos, móveis ou “outros bens de interesse, são por nós recolhidos e cuidados de forma a estar nas melhores condições de entrega aos novos donos”. O espaço da loja é pequeno mas a equipa responsável garante também a possibilidade de ir a casa das pessoas recolher “mobílias, electrodomésticos”, exemplifica o Pe. Vítor Portugal. A entrega é feita a famílias ou pessoas que “temos conhecimento que necessitam” que habitam nos três bairros carenciados da cidade de Setúbal – Fontaínhas, Santos Nicolau e São Domingos, próximos da Igreja de São Sebastião. Mas se aparecer alguém que não conhecem, “logo se insere os seus dados nos nossos registos”, garante o Pe. Victor Portugal, de forma a acolher e “tomar conhecimento da situação familiar. Esta iniciativa irá também beneficiar, a curto prazo, outras famílias encaminhadas pelos serviços sociais das diversas instituições parceiras da cidade de Setúbal.” Duas vezes por semana, técnicos de acção social e voluntários do Centro Comunitário dão vida a esta loja; realiza também um acompanhamento que visa “não só a ajuda material, mas principalmente gere afectos e competências para a construção de projectos de vida”, sublinha o pároco. O acompanhamento é já realizado a cerca de 60 famílias que se inserem dentro das condições do Rendimento Social de Inserção. “Há um contacto bastante próximo com a realidade das pessoas”, contacto este que esperam resultar numa maior proximidade e conhecimento das necessidades, e consequentemente, melhor adequação das respostas sociais. Os três bairros têm características “antigas, onde as carências afectivas se sentem”, em especial junto da população mais idosa. Mas os bens materiais são também “essenciais para a sua sobrevivência”. Este serviço à comunidade que querem prestar é uma forma de “retirar as pessoas do isolamento”, adianta. Dentro de outras valências, o Centro Comunitário conta com um espaço (Porta Aberta) onde as crianças beneficiam de acompanhamento pedagógico e apoio escolar “com o objectivo de, orientadamente, as tirar da rua”. Quanto aos jovens “é mais difícil”, explica o pároco, mas estão empenhados em acções de motivação para o “trabalho, valores da vida, da dignidade e da família”. Para os idosos estão planeadas, diariamente, actividades culturais e de animação. A par da Loja Social o ideal seria criar uma Loja de Afectos. “Esta é uma situação muito premente dada a sociedade em que vivemos onde faltam relações interpessoais, acolhimento e o amor”, adianta o pároco. A Loja Social teve a sua inauguração no passado dia 16 e “é já um sucesso”, quer junto da população quer junto de diversas instituições como a Cáritas, a Santa Casa da Misericórdia, Associação de Socorros Mútuos… Várias entidades civis que se fizeram representar, caso da Segurança Social e da Autarquia local“. O interesse nesta loja é um sinal de continuidade do bom entendimento e de parcerias já desenvolvidas”, afirma o Pe. Victor Portugal.