Fidei Donum, revolução na Missão

“O dom da fé”, “Fidei donum”, é o título da Carta Encílica que Pio XII enviou aos Bispos de todo o mundo no dia 21 de Abril de 1957. O Papa convidava todos a partilhar “a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as Igrejas” (2 Cor 11,28). O pedido passava não só pela oração e a solidariedade, mas também pelo pedido inédito de colocar alguns padres da Diocese ao serviço dos bispos de África, por um período limitado de tempo, os ainda hoje chamados padres “Fidei Donum”. Alguns bispos, escrevia Pio XII, “consentem em que um ou outro sacerdote saia da diocese para ir, por algum tempo, pôr-se à disposição dos ordinários da África. É grande esse auxílio, pois para lá podem levar, sábia e discretamente, novas formas mais adaptadas de ministério sacerdotal, ou substituir o clero diocesano, onde este não for suficiente, no ensino sagrado ou profano”. Uma nova corrente missionária foi assim criada, levando milhares de padres diocesanos a partir em missão, para países longínquos, dinamismo que se viria a alargar a religiosos e leigos. João Paulo II, na encíclica Redemptoris Missio (1990), lembrava que Pio XII fez superar a dimensão territorial do serviço presbiteral, para o destinar a toda a Igreja. “Hoje está confirmada a validade e a fecundidade dessa experiência: na verdade, os presbíteros, denominados Fidei Donum, evidenciam o vínculo de comunhão entre as Igrejas, dão um precioso contributo para o crescimento de comunidades carenciadas, enquanto recebem delas frescura e vitalidade de fé”, assinalou. A Fidei Donum observava, de facto, que “se cada bispo é o sagrado pastor apenas da porção do rebanho a ele confiada, no entanto, por instituição e preceito de Deus, é legítimo sucessor dos apóstolos e por isto responsável, juntamente com os outros bispos, pelo múnus apostólico da Igreja”. O documento de Pio XII falava sobre a situação das missões católicas, particularmente da África, assinalando que “os magníficos resultados dos trabalhos missionários, por nós lembrados, não devem, entretanto, levar ninguém a esquecer-se de que o que ainda resta a fazer nesse domínio pede enorme trabalho e inúmeros operários”. “O inconveniente do pequeno número de apóstolos é quase sempre imensamente agravado pela necessidade material que atinge às vezes a indigência. Quem virá, generosamente, com auxílio conveniente, em socorro dessas missões recentes, que tanta necessidade dele têm, pois a maioria se encontra em regiões paupérrimas, muito aptas, porém, a receber o Evangelho?”, perguntava o Papa de então. Relativamente à situação de África, Pio XII referia que “ali, cada dia mais avulta o clero indígena; contudo, esses sacerdotes somente mais tarde poderão receber, com segurança, o pleno governo do povo em suas dioceses, e ainda sempre com o auxílio dos missionários estrangeiros que os levaram à fé”. Cooperação da Igreja A encíclica apela, directamente, à cooperação de toda a Igreja, defendendo que “o que se dá com a Igreja católica na África não diz respeito apenas àquele continente, mas a todos os povos fora de seus limites. Portanto, de todas as partes da Igreja, ao apelo da Sé Apostolica, deve vir o auxílio fraterno para socorrer as necessidades dos católicos”. “Nada do que pertence à Igreja, nossa Mãe, é estranho a cada cristão, nem o deve ser: como sua fé é a fé da Igreja universal, sua vida sobrenatural é a própria vida de toda a Igreja, assim as alegrias, as angústias da Igreja são suas alegrias e angústias; assim também as perspectivas e desígnios da Igreja, que tudo abarcam, serão as perspectivas e planos da vida cristã ordinária”, referia. Por isso mesmo, pode ler-se que “na África, já não se trata de questões de âmbito estreito, concernentes apenas a alguns e que poderiam ser resolvidas gradativa-mente, sem qualquer relação com os interesses da comunidade cristã universal”. Pio XII considerava “muito eficaz” o auxílio dos “leigos militantes” em favor das recém-fundadas comunidades cristãs. “Essa cooperação pede interesse pelo bem de outrem, moderação e prudência; mas pode, e muito, ser de proveito para as dioceses sobrecarregadas de novos trabalhos apostólicos”, escreveu. A encíclica conclui-se com um desejo: “possam as santas missões levar até os confins da terra o esplendor da verdade e das virtudes cristãs, juntamente com o progresso da civilização”.

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