Um fosso cada vez maior

Presidente da direcção da Rede Europeia Anti Pobreza, lamenta persistência das desiguladades e da exclusão, 40 anos depois da Populorum Progressio 40 anos depois da Encíclica Populorum Progressio, o Padre Agostinho Jardim Moreira assinala que Portugal ainda não reconhece o mesmo direito à dignidade a todos os portugueses. O Presidente da direcção da Rede Europeia Anti Pobreza, em Portugal, refere que “é pacífico na sociedade estarem dois milhões de portugueses em risco de pobreza e tudo continuar na mesma”, porque reina a indiferença e é normal “aceitarem-se apenas umas migalhas”. O sacerdote aponta à Agência ECCLESIA que é “estrutura social que é injusta e promove a injustiça”. Apesar de os “ricos em Portugal” não serem muitos, “a maioria começa a ficar com problemas económicos, mas os pobres continuam pobres”, destaca. Acerca da Encíclica de Paulo VI,indica que o seu contexto histórico era diferente, numa época em que se vivia o pós Concílio Vaticano II. Depois disso “passámos a guerra fria, o tempo colonial e os povos ficaram mais autonomizados mas presos à pobreza”. E destaca o exemplo de África onde “existem milhões de crianças órfãs” e onde as doenças infecto contagiosas continuam a ser dominantes. “São situações que acontecem por falta de cuidados de saúde, que continuam a aumenta”, sublinha. A exploração dos países africanos, que contam com uma grande riqueza mineral e natural mas que “estão endividados e subjugados pelos países mais ricos”. O final da década de 80 assistiu à queda do muro de Berlim e à mudança da potência económica e política da Rússia. “Verificou-se que o capitalismo encontrou terreno fácil e fértil para se propagar a nível nacional e internacional”, afirma o Pe. Agostinho Jardim Moreira. “Os egoísmos tornaram-se mais fortes e a pessoas humana, quer no contexto europeu como mundial ficou em segundo lugar. O emprego e o lucro tomaram o lugar do desenvolvimento integral da pessoa humana, da educação e da saúde”. Neste contexto os países pobres “gritam por justiça aos países mais ricos”. Mas a pobreza chega também aos países mais ricos, que vê o fosso com os seus pobres aumentar. “O valor sagrado deste tipo de cultura é o dinheiro e o desenvolvimento da competitividade e do progresso baseia-se na economia”, destaca. O Presidente da direcção da Rede Euro-peia Anti Pobreza afirma que o sistema capitalista “desenfreado e descontrolado” faz com que o desempregado e as pessoa que têm menos acesso aos serviços fiquem “numa situação de marginalidade, exclusão e pobreza”, por causa do próprio sistema “que é perverso e excludente”. O fosso entre culturas é também apontado pelo Pe. Agostinho Jardim Moreira. O Médio Oriente e os países árabes mantêm uma luta de desenvolvimento com os países ocidentais. “Há sem duvida um choque de culturas, de uma cultura tradicional confrontada com um desenvolvimento tecnológico que tem de optar por tecnologias de desenvolvimento ocidental ou ficar de fora”, refere. Este choque de mentalidades, de cultura e também “religioso está a criar um impacto muito grande”, porque para além de ser em si uma forma de exclusão, é também uma “forma de confronto de culturas”. Os valores da tecnologia ocidental penetram nos países árabes, dando lugar a um confronto que não está longe de ser resolvido. Por isso, o Pe. Jardim Moreira sublinha que “é preciso que o desenvolvimento não seja apenas tecno-lógico e económico, mas das pessoas na sua integridade”, valorizando também a dimensão espiritual. “A Igreja vem apelar às desigualdades, mas se calhar apela pouco” lamenta. “Com 90% dos portugueses que se afirmam católicos, não se vê na prática e no amor ao próximo este catolicismo. Esta insensibilidade arrepia qualquer pessoa”, finaliza.

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Agência ECCLESIA

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